CFCH - Centro de Filosofia e Ciências Humanas

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O CFCH e o momento histórico

Em cerimônia de posse do decano, reitor destaca a importância do Centro na reflexão acerca das transformações necessárias ao país

No último dia 24 de setembro, os professores Marcelo Macedo Corrêa e Castro, da Faculdade de Educação (FE), e Vantuil Pereira, do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos (Nepp-DH), tomaram posse como, respectivamente, decano e substituto eventual do decano do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) do quadriênio 2018-2022. A cerimônia contou com a presença do reitor, professor Roberto Leher, da vice-reitora, Denise Nascimento, da professora Lilia Guimarães Pougy, decana no quadriênio 2014-2018, da professora Mônica Lima, vice-decana no quadriênio 2014-2018, além de pró-reitores, decanos, diretores de unidades, demais dirigentes, professores, servidores técnico-administrativos e estudantes. 

A cerimônia foi marcada por manifestações de afirmação da autonomia universitária e do caráter público, gratuito e democrático das universidades federais. O incêndio do Museu Nacional, que completa um mês no dia 2 de outubro, também foi lembrado. A professora Lilia Guimarães Pougy, que transmitiu o cargo ao novo decano, abriu o evento, agradecendo o trabalho de toda a equipe, coordenadores e servidores técnico-administrativos, incluindo as menções in memorian, em homenagem a Patrícia Ferreira Cerqueira Leite, falecida em outubro de 2014, e Alexandre Vitorino, falecido em janeiro de 2018. “Para todas e todos, o meu reconhecimento na construção substantiva da gestão participativa e democrática do quadriênio, na qual a integração acadêmica dos cursos, unidades, atividades e projetos puderam dinamizar ações universitárias na direção do fortalecimento da sua dimensão pública, gratuita, laica e socialmente referenciada, na contracorrente de uma conjuntura abominável de recrudescimento fascista do racismo, da misoginia e da ordem capitalista”, afirmou a professora titular da Escola de Serviço Social (ESS).

O professor Vantuil Pereira, empossado como substituto eventual do decano, manifestou seu irrestrito apoio ao reitor, professor Roberto Leher, no contexto do incêndio do Museu Nacional. “Neste momento, a universidade sofre um ataque profundo e brutal, seja através dos cortes no orçamento, seja pelas políticas neoliberais que privilegiam o mercado, seja pelos ataques desferidos pela mídia, um braço político e ideológico da direita do Brasil e partido desta mesma direita”, comentou. “O posto de vice-decano, ou substituto eventual, pode ser entendido como uma tarefa humilde. Ele é demarcado, aparentemente, pela pouca visibilidade. Esse deve ser o vice. Afirmo que o meu lugar como substituto que pretendo ser é aquele da fidelidade. Procuraremos discutir, criticamente, os caminhos a serem trilhados. É assim que pretendo atravessar o período que agora se inicia. Estarei à disposição para coadjuvar e ajudar no que for preciso”, completou o diretor do Nepp-DH.

O professor Marcelo Marcelo Corrêa e Castro, em seu discurso de posse, recordou a trajetória do CFCH, a partir da criação dos centros universitários, em 1967, até o período da gestão da professora Suely Souza de Almeida, em 2006. “Esse momento instaura o ciclo que reinventou as decanias como espaços de articulação política, acadêmica e administrativa, conferindo novo sentido para a atuação da chamada estrutura média. Nesse ciclo, o CFCH obteve grande projeção no mapa acadêmico e político da UFRJ, conquistou mais recursos, protagonizou processos de democratização da universidade e buscou reconstruir-se como um coletivo que respeita a diversidade das instâncias de que se constitui”, pontuou o decano. Marcelo Castro enumerou ainda conquistas deste período, que caracterizam a atuação do CFCH na UFRJ como “crítica e, ao mesmo tempo, propositiva no enfrentamento de temas complexos e polêmicos”. Entre esses temas estão: orçamento participativo; alocação de vagas e normas para concursos; assistência estudantil; política de bolsas; plano de desenvolvimento institucional; adesão ao REUNI (plano de expansão e reestruturação das IFES); plano diretor da UFRJ; acesso e permanência; ações afirmativas; (não) contratação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares; alimentação; terceirização; assédio; segurança e acessibilidade. 

O decano também lembrou o recente processo sucessório, que o indicou para estar à frente do Centro nos próximos quatro anos, e propôs o que ele vem denominando de “repactuação”. “Não podemos ignorar, todavia, que as vozes e os olhares que constituem o nosso Centro são muitas e, em diversos aspectos, conflitantes. Por isso, a escuta do que nos interpela é tão importante quanto a reiterada verbalização do que nos constitui. Por isso, é preciso exercer o contraditório, como estabelece a lógica da promoção da justiça. Por isso, é preciso ter como base das nossas ações o que tanto insistia em afirmar o nosso saudoso Reitor Aloísio Teixeira: ‘A riqueza da universidade é a sua diversidade’. Por isso, nossa palavra de ordem, desde que assumimos, tem sido repactuação”, apontou.

Por fim, Castro mencionou a tragédia ocorrida no Museu Nacional, no último dia 2 de setembro, que fez com que a cerimônia de posse, inicialmente agendada para o dia 3 daquele mês, fosse adiada. O decano recordou a infância, quando visitava o local, ao lado do irmão, hoje professor da Universidade de São Paulo (USP). Para além do lamento, o professor deixou uma mensagem de esperança. “As peças incineradas do acervo lá estavam como decorrência da iniciativa de pessoas que as coletaram, estudaram e preservaram, porque a elas atribuíram valor, porque por meio delas produziram saberes. Essas peças não poderão mais ser expostas em sua concretude original: talvez haja fotos, talvez sejam recriadas com o auxílio de tecnologias como as das impressoras 3D”, comentou. “Outras peças, no entanto, ocuparão lugar em novas exposições, porque a capacidade humana com que se constrói o Museu Nacional vive e se revigora por meio do poder de criar e de preservar cultura, que nenhum incêndio jamais poderá destruir. Essas outras peças encantarão outras meninas e outros meninos, nossos descendentes, que subirão as escadas de um novo Museu, onde estará a sua espera a memória do que nos constitui como civilização”, completou.  

Clique aqui para ler o discurso na íntegra.

A professora Denise Nascimento, vice-reitora da UFRJ, falou sobre a “continuidade do trabalho de ensino, pesquisa e extensão” do Centro. “Nós temos a plena consciência da necessidade premente das análises cuidadosas do CFCH neste processo por que passa a sociedade brasileira. Acredito que as reflexões produzidas neste Centro vão nos dar subsídios para que nós possamos enfrentar os tempos difíceis de uma transição que ainda está por vir”, afirmou. A exemplo de Vantuil, Denise também falou sobre o papel dos substitutos em cargos de direção. “O momento atual da nossa universidade requer vices extremamente parceiros e solidários. Posso dizer que o vice não apenas ajuda a conduzir os trabalhos, mas também compartilha de todas as atividades”, comentou. “Os próximos quatro anos não serão plenos de recursos. Mas tenho certeza de que será uma gestão plena de ideias e de responsabilidade do que significa o CFCH para esta universidade e para toda a sociedade brasileira”, completou.

Por fim, o professor Roberto Leher, reitor da UFRJ, falou sobre a importância do CFCH na produção de conhecimento e reflexão. “Este é um Centro que tem muitas responsabilidades acadêmicas, que produz conhecimento de forma rigorosa em distintos âmbitos e esferas do conhecimento, problemáticas cruciais para a humanidade. É um Centro em que miradas epistemológicas estão permanentemente sendo desenvolvidas, trabalhadas, dialogadas, na busca de novos prismas para compreender a realidade”, comentou. “A universidade, por suposto, não é uma instituição de natureza técnica e instrumental. Embora, a universidade desenvolva pesquisas nos campos técnico e instrumental. Mas os aparatos técnicos e instrumentais não são desprovidos de relações sociais. As tecnologias condensam relações sociais. O nosso Centro pensa o mundo do trabalho, as relações de poder, de modo que o CFCH possibilita que a UFRJ seja, de fato, uma Universidade – e não uma instituição que tem como objetivo resolver problemas práticos e instrumentais”, continuou o reitor. 

Leher também abordou o atual cenário político do país, as manifestações de incitação à violência e a intolerância de determinados grupos sociais. “Num momento em que, no país, a própria democracia está em questão, este Centro, obviamente, tem as suas responsabilidades muito ampliadas. Nós temos dilemas, hoje, nos diversos campos do conhecimento, em que o aporte da Filosofia, da compreensão dos processos sociais, das relações dos processos da formação humana são absolutamente cruciais”, considerou. Ao final, o magnífico procurou deixar uma mensagem de estímulo à comunidade do CFCH. “Devemos ver essas adversidades como desafios e possibilidades de transformação. A universidade sempre é uma instituição aberta ao tempo histórico. Mas o tempo histórico é feito por mulheres, homens. E eu tenho certeza de que esta cerimônia é uma afirmação desta concepção de universidade, que nós compartilhamos, em relação à democracia e à possibilidade de um bem viver a todos que têm um rosto humano”, concluiu o reitor da UFRJ.

 

Texto e fotos: Pedro Barreto/SeCom/CFCH

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