Para ela, mesmo a presença de mulheres em espaços de poder não necessariamente implica em “uma ótica diferenciada”. Como exemplo, citou o aumento na participação feminina na magistratura e também na disputa eleitoral à presidência. Em sua visão, a análise dos discursos entre presidenciáveis mostra uma “abordagem moralizadora”.
Pougy enfatizou que embora tome contornos particulares, de acordo com o espaço em que se manifesta, o sexismo é um problema generalizado na sociedade que se combina, sobretudo, às opressões de gênero, de classe e de etnia: “Nesse sentido, estudos de classe têm o mesmo peso que os de gênero para compreensão desse fenômeno”.
“O sexismo refere-se a toda forma de violação a direitos humanos com base na relação de gênero”, explicou a docente. “Não é uma briga entre homens e mulheres”, completou depois. Na visão da professora, a institucionalização das discussões e lutas do movimento das mulheres contra o sexismo foi um passo importante. “Exemplos como a criação da Secretaria de Mulheres (da presidência da República) responde a um enorme déficit de políticas públicas nesse campo”, avaliou. O combate à violência de gênero justificou seu argumento. “A violência é um fenômeno social. E não uma patologia de casal. É crime”, afirmou. “Quando vemos argumentações de que se trata de coisas de casal, até mesmo erotizando esse tipo de relação, a consequência é a tolerância social a essa situação. Quando a violência atinge o corpo”, continuou o raciocínio, “alcança também a consciência. Por isso, cada mulher agredida representa todas as demais”.
Sexismo é também machismo
Doutoranda da Escola de Serviço Social da UFRJ, Isabel Mansur afirmou que o debate sobre sexismo é também um debate sobre machismo. “Se tratamos o sexismo como um conjunto de ações e ideias que privilegiam determinado gênero, ou orientação sexual, em detrimento de outros, estamos então falando de machismo”. Para ela, o machismo faz parte do modelo hegemônico de construção da sexualidade na sociedade e está relacionado a uma hierarquia social.
Outro aspecto abordado por Isabel Mansur é o que se refere ao modelo familiar no qual nossa sociedade se estrutura: “Patriarcal, mononuclear e heteronormativa. Este é um modelo civil, mas também econômico. É a esfera de produção e de reprodução da vida. É notório o papel da família na transmissão de classe – você nasceu em uma determinada classe e a ela continuará pertencendo. Para além disso, temos a divisão sexual do trabalho: trabalhos domésticos são femininos. Trabalhos não domésticos são masculinos. Em síntese, a família patriarcal burguesa é a célula pela qual se organiza toda a sociedade e por ela perpassa um processo de dominação de classe”.
“Ainda que tenhamos tido uma série de modificações e inserção massiva das mulheres no mercado de trabalho, que parecem ter mexido na estrutura social de forma significativa, percebemos que o processo de transformação cultural é muito lento e não acompanha essas mudanças. Nosso desafio é pensar de que forma mantemos o movimento de apresentar as contradições e superá-las”.
Assédio na universidade
Maria Leão, representando o movimento estudantil (ela é diretora de Combate às Opressões do DCE Mário Prata) e o Coletivo de Mulheres da UFRJ, focou sua fala no sexismo ocorrido na universidade: “A Academia é um espaço de produção de conhecimento e de produção da elite. E se é um espaço da elite, como os outros espaços, ele exclui quem não deve fazer parte da elite. Nos últimos tempos, no total de matrículas, cerca de 60% são de mulheres, no entanto, essas mulheres não entram em cursos caracterizados ainda como masculinos e nem participam da universidade como elite intelectual. A pós-graduação ainda é majoritariamente masculina”.
Maria Leão afirmou que professoras e alunas de todas as Unidades da UFRJ já relataram situações de perseguição e assédio: “Não há um curso em que as mulheres não tenham histórias de horror para contar sobre opressão, perseguição, assédio moral e sexual. Este processo exclui as mulheres do espaço universitário, porque as alunas trancam as disciplinas, deixam de pegar matérias com determinados professores e demoram a se formar”.
Ela contou que todas as alunas de todos os cursos do IFCS, ao serem perguntadas sobre o principal medo que têm ao sair à noite do prédio do Largo do São Francisco (no Centro), respondem que é o de serem estupradas e mortas. E que este fenômeno não pode ser naturalizado, mas, na universidade, permanece invisibilizado: “Espaços como este debate ajudam a desnaturalizar esse processo. O machismo e o sexismo ajudam a manter as estruturas de poder e dominação sociais”.
*Publicado na edição 859 do Jornal da Adufrj-Ssind, publicada em 15 de setembro de 2014.
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