Para a professora Maria Malta, é preciso deixar de tratar os direitos legítimos do corpo discente como assistência. “A questão que se debate como assistência estudantil é transformá-la em política permanente da gestão desta universidade. Não faz sentido falarmos em bibliotecas, restaurantes e salas de aula como ‘assistência’. Isso tem que ser visto como prioridade”, afirmou.

Na opinião de Maria Malta, a mobilização criada para a eleição do professor Roberto Leher para a Reitoria deve continuar de modo a promover as mudanças necessárias. “Não há solução mágica e a demanda é crescente. Teremos que pensar soluções alternativas para atender a todas elas. Temos que aproveitar a mobilização criada nesta universidade para, além de fazer a crítica, propor saídas ao grave quadro que se apresenta”, disse a docente.

Função social 

O professor Marcelo Paixão enfatizou a importância da reflexão quanto à função social da universidade no quadro de crise atual. “Em qualquer lugar do mundo, o sistema educacional reproduz as desigualdades sociais. No Brasil dos anos 1980, a universidade sentia orgulho dessa desigualdade. Era o velho Brasil, cujos privilégios eram incorporados à natureza das coisas. A partir de então, os movimentos sociais passaram a reivindicar a democratização do ensino superior”, analisou o docente. “Não tenham dúvidas de que vocês, do Instituto de Economia, estão sendo treinados para reproduzir essa desigualdade. Por isso, refletir sobre o papel social da universidade é fundamental para o debate sobre a desigualdade neste país”, completou Paixão.

Ex-representante do Conselho Universitário (Consuni), Paixão lembrou a luta pela aprovação de cotas no âmbito do colegiado. Se o debate sobre as cotas raciais não avançou, foi aprovada a cota de 20% para estudantes egressos da rede pública e com renda familiar até 1,5 salário mínimo. “A minha proposta de ações afirmativas foi duramente enfrentada por aqueles que queriam manter os seus privilégios. Se a sociedade brasileira quer viver sob um novo modelo, as nossas elites têm que se repensar”, apontou. 

A partir desta análise retrospectiva, Paixão mapeou as questões enfrentadas pela universidade nos dias de hoje. “A novidade que temos hoje é que, antes, o estudante que vinha ‘de baixo’ não tinha alternativa se não abandonar os estudos. Nossa demanda hoje por restaurante e alojamento é muito maior do que no passado. Se isso acontece, é por que não foi resolvido antes”, diagnosticou. “Eu gostaria de, um dia, à luz das mudanças recentes, ter a certeza de que estamos formando alunos para uma sociedade democrática. Nosso principal objetivo deve ser alargar o grau de lucidez sobre o espaço que estamos frequentando”, concluiu o docente.

Déficit de moradias estudantis

Carlos Frederico Leão Rocha, diretor do IE-UFRJ, apresentou ponderações e fez uma retrospectiva acerca da questão da assistência estudantil. Integrante do Comitê Técnico do Plano Diretor UFRJ 2020, Rocha lembrou que a proposta previa a construção de mil unidades residenciais até 2012, 4.000 até 2016 e 9.000 até 2020. No entanto, o atual alojamento dispõe de apenas 504 vagas para uma demanda de 12.500 candidatos. “A expansão planejada não foi concluída. Precisamos admitir no projeto de nos constituir enquanto Universidade. Falhamos na tarefa de coordenação das unidades”, avaliou. “No entanto, esta mobilização que está acontecendo agora é muito importante. As pessoas precisam saber das necessidades do nosso corpo discente”, completou o diretor do IE-UFRJ.

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