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Há luz no fim do túnel

Em março último, foi constituída uma comissão, no âmbito do Consuni, que tem como objetivo dialogar com o corpo discente da universidade, de maneira a ouvir as reivindicações e buscar atender às demandas acerca da assistência estudantil. O levantamento tem como único requisito a apresentação da Confirmação do Registro de Inscrição em Disciplinas (CRID). O trabalho envolve os representantes do Conselho Diretor e servidores técnico-administrativos do CFCH; a equipe técnica para atendimento psicossocial do Centro de Referência de Mulheres (CRM) e do Centro de Referência de Mulheres da Maré Caminha Rosa (CRMM-CR); o Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos (Nepp-DH); a Divisão de  Psicologia Aplicada (DPA), vinculada ao Instituto de Psicologia (IP); a Divisão de Apoio aos Estudantes (DAE), vinculada à Superintendência Geral de Políticas Estudantis (Superest); e a Pró-Reitoria de Graduação (PR-1). “A proposta não é credenciair ou selecionar os moradores da residência, mas sim, revelar o quadro dos moradores atuais e tomar as medidas no âmbito da Reitoria em comum acordo com o corpo discente. Para isso, é preciso restaurar a nossa capacidade de diálogo”, diz Lilia Guimarães Pougy, decana do CFCH e integrante da comissão. Nesta terça-feira (2/6), está prevista uma visita dos decanos à residência estudantil.


Os dados iniciais já estão sendo encaminhados à Pró-Reitoria de Graduação (PR1), que informará a situação acadêmica de cada um dos estudantes, e à Superest, que analisará se os mesmos se enquadram no perfil socioeconômico exigido pelo Programa Nacional de Assistência Estudantil (PNAEs). Em conformidade com a resolução aprovada, a prioridade de reocupação dos 252 apartamentos do bloco feminino se dará a partir dos seguintes critérios:

Prioridade 1: os atuais moradores do bloco masculino, inicialmente identificados pelo processo oficial de seleção anterior à realização do remanejamento; 

Prioridade 2: os antigos moradores regularizados que, com a reforma do bloco feminino, optaram por deixar a Residência Estudantil e receber o Auxílio Moradia Emergencial, no valor de R$ 1.200,00 oferecido pela Reitoria. Após a regularização cadastral, em prazo a ser definido pela Superintendência de Políticas Estudantis (Superest), os estudantes identificados na Prioridade 2 deixarão de receber o auxílio.

Prioridade 3: todos os demais atuais moradores da residência estudantis que se encontrem dentro do perfil estabelecido pelo PNAEs. 

Moradores reivindicam melhorias

Entre os moradores que responderam à chamada do levantamento, muitos se queixaram das condições precárias da residência estudantil. Raine Machado, estudante do curso de Dança, é moradora regular há dois anos. Bolsista da Cia. Folclórica da UFRJ e de família residente na zona rural de Nova Iguaçu, ela explica que precisa permanecer no local. “A situação está muito complicada. Cheguei a dividir o quarto de 2m x 5m com mais uma pessoa. Há muito ratos e baratas no local, as instalações elétricas são precárias e não temos certeza se o tratamento de água é realizado”, afirma. Raine participa assiduamente das assembleias semanais dos moradores. “Considero justas as reivindicações de quem ocupa. A maioria dos que estão aqui realmente precisa da assistência. Nas assembleias, procuramos conhecer as demandas de quem está chegando e, se for o caso, ‘agregar’ essas pessoas”, explica, referindo-se à iniciativa voluntária dos moradores regulares de oferecerem moradia aos ocupantes.

Patrícia Ribeiro, estudante de Ciências Biológicas e natural de Volta Redonda, reside há dois anos e meio no local. Ela reclama da recente suspensão da alimentação e do risco provocado pela instalação de botijões de gás em alguns quartos. Pedro Ribeiro, aluno do curso de Mestrado em Engenharia Metalúrgica e natural de Teresópolis, era morador regular durante a graduação. Atualmente, foi “agregado” pela namorada, esta sim, devidamente registrada. “Conseguimos algumas conquistas importantes, mas precisamos de mais”, opina.

Ocupante há oito meses do Alojamento, Marfizi Pereira é estudante do Bacharelado de Dança. Segundo ela, a mudança para o local se deveu à impossibilidade de pagar quatro passagens de ônibus diárias. “Divido o quarto com mais quatro pessoas. Há problemas de limpeza e infraestrutura. Por isso, estou participando do levantamento para regularizar a minha situação”, explica.

O brasiliense Ítalo Ferreira é estudante do curso de Farmácia e ocupa a Residência há dois meses. Durante uma assembleia, conheceu dois moradores que o acolheram. “Dividimos um quarto muito pequeno e ainda precisamos enfrentar problemas como a infestação de ratos e baratas, portas e banheiros quebrados”, relata.

Fotos: Pedro Barreto / SeCom/CFCH

Previsão de conclusão da reforma geral é de dois anos

Mônica Conde, superintendente adjunta da Superest, esclarece que as 504 vagas do Alojamento foram reduzidas pela metade com a obra na ala feminina, a primeira etapa da reforma geral. Ela explica que “além de a atual infraestrutura não dar conta da demanda habitual, a recente ocupação agravou o quadro de precariedade”. Segundo a resolução do Consuni extraordinário, a previsão de conclusão das obras do bloco feminino é outubro deste ano. Já segundo informações divulgadas pela Assessoria de Imprensa do Gabinete do Reitor, “a reforma está sendo executada ao custo de R$ 8 milhões”, sob responsabilidade da empresa Engenews, vencedora do processo licitatório, e a "previsão para entrega dos dois blocos (masculino e feminino) totalmente reformados é de dois anos, um ano para cada".

Quando forem entregues, os novos quartos, também de 2m x 5m de área, serão equipados com armários embutidos, prateleiras, camas e ventiladores de parede. Cada módulo, composto por três quartos, terá uma cozinha e um banheiro. Ainda de acordo com a Assessoria de Imprensa do Gabinete do Reitor, “a primeira etapa dos trabalhos consistirá em reparos nos telhados e caixa d’água, e posteriormente serão feitas a instalação de escadas de incêndio, reforma do refeitório, espaços administrativos e também entorno”

Segundo a superintendente, a suspensão temporária do serviço de alimentação se deve ao rompimento de contrato da empresa contratada para fornecer o serviço. Mônica explica que as medidas legais para a resolução já foram encaminhadas pela Administração Central da universidade. A superintendente também afirma que os serviços de dedetização e desratização são realizados periodicamente, mas afirma que alguns moradores alimentam animais domésticos no local, resultando na proliferação de pragas. 

“Políticas estudantis serão prioridade”

Já para Vera Salim, professora do Programa de Engenharia Química da Coppe e futura pró-reitora de Políticas Estudantis da gestão Roberto Leher/Denise Nascimento, é preciso priorizar a construção de uma política estudantil. “A questão dos ratos é um caso de saúde pública. Somado ao problema da alimentação e aos demais, esta situação tem causado enorme fragilidade emocional nos estudantes”, afirma Vera, que tem acompanhado as reivindicações dos estudantes e participado das assembleias dos moradores. 

O programa de campanha da Chapa 20 “UFRJ Autônoma, Crítica e Democrática” assumiu total compromisso com a política estudantil. “Entre pagar luz e água ou pagar as bolsas, ficaremos com esta última”, afirma a futura pró-reitora. Ainda segundo o programa da chapa vencedora, a atual Superest será transformada em pró-reitoria. “A transição oficial ainda não aconteceu. Neste momento, cabe à atual Reitoria se posicionar. Quando assumirmos, nossa primeira medida será voltar ao alojamento para agradecer à votação expressiva e ouvir as demandas, o que já está sendo feito. Fiquei extremamente impactada, não apenas com as condições de infraestrutura, mas também como, de uma hora para outra, a Reitoria providenciou equipamentos que estavam sendo reivindicados há cerca de um ano, como telefone e utensílios de cozinha. Também me assusta a dificuldade de interlocução da atual gestão da Superest com os estudantes”, afirma Vera Salim.

Outra queixa recorrente por parte dos estudantes é o trancamento de uma das duas salas de informática da residência. Mônica Conde argumenta que faltam funcionários da Superintendência de Tecnologia de Informação e Comunicação (Supertic) para realizar o controle, já que “na outra sala (onde o acesso é liberado), ocorreu a retirada de equipamentos”. Vera Salim acredita que bastaria vontade política para resolver a questão. “Por que a Supertic não envia um funcionário para abrir a sala?”, indaga. “Mesmo com as dificuldades orçamentárias, se tomadas como prioridade, as soluções são possíveis”, completa a futura pró-reitora.

Sobre a proposta da atual gestão da Superest, de controlar o acesso por meio de catracas e cartões magnéticos, Vera Salim afirma ser contrária. “A solicitação dos estudantes é que o controle seja feito através de interfones, como acontece em qualquer residência. A Residência precisa funcionar 24h. Atualmente, existe vigilância e portaria, mas não há serviço de reparo ou auxílio, caso algum acidente ocorra”, diz.

Nos últimos dias, surgiram algumas denúncias sobre possíveis ocupantes da residência estudantil que não estariam dentro do perfil socioeconômico definido pelo PNAEs. “Acredito que elas são mínimas, mas o futuro censo dirá se isto é verdade”, afirma Vera Salim, em referência ao censo estudantil reivindicado pelo corpo discente durante a ocupação da Reitoria em maio último. “Me parece que há uma tentativa de desqualificar as reivindicações dos estudantes. Mas, se isso existe, se deve a uma omissão institucional”, conclui.

 

Fotos: Pedro Barreto / SeCom-CFCH

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