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CFCH - Centro de Filosofia e Ciências Humanas

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Pelo fim do “homem-orquestra”: decano pede maior participação da comunidade do CFCH no processo sucessório e compartilhamento de responsabilidades na próxima gestão

Foto: Cícero Rabello - CPM/ECO-UFRJ

Nos dias 13, 14 e 15 de maio, a comunidade do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) escolherá o decano do quadriênio 2014-2018. Após duas gestões à frente da Decania, o professor Marcelo Macedo Corrêa e Castro deixará a função. Em entrevista ao Setor de Comunicação (SeCom) do CFCH, o decano fez um balanço dos últimos oito anos, analisou a área das Ciências Humanas na universidade, apontou possíveis caminhos a serem seguidos e falou sobre a participação da corpo do CFCH na pesquisa eleitoral.

O professor explica que o papel do decano é fazer a intermediação entre as unidades e as instâncias superiores, além de fortalecer as Ciências Humanas. Para ele, a Decania deve ser entendida como uma forma de valorização do debate democrático na universidade. Por esta razão, o decano chama a atenção para a importância do compartilhamento de responsabilidades na gestão e de uma participação maior do corpo do CFCH no processo sucessório. “Este é o be-a-bá da política na universidade, que está preocupante hoje em dia. Cada vez mais a gente se sente representando um coletivo menor. Você vê isso no resultado das eleições, no quórum de votação cada vez mais reduzido”, alerta.

Com a prorrogação do prazo, as inscrições de candidatura para a pesquisa eleitoral que indicará o próximo decano se encerram no próximo dia 25. Somente após esta data as chapas concorrentes serão conhecidas. Estão aptos a votar todos os servidores docentes e técnico-administrativos e estudantes que integrem os quadros das unidades do CFCH. Servidores técnico-administrativos que façam parte atualmente do plano efetivo dos quadros de carreira da UFRJ, lotados no Sistema de Bibliotecas e Informação da UFRJ (SiBI) e que exerçam regularmente suas atividades em bibliotecas sob a responsabilidade da Decania e de unidades ou órgãos suplementares do CFCH também poderão participar. O peso das três categorias será de 1/3 cada. 

Entre os dias 26 de abril e 9 de maio, serão realizados três debates, em dias e horários a serem definidos pela Comissão Coordenadora da Pesquisa, sendo um no campus universitário da Praia Vermelha, um no campus do Largo de São Francisco e um no Colégio de Aplicação (CAp). 

A votação para escolha do decano acontecerá nos campi da Praia Vermelha e do Largo de São Francisco, das 10h às 13h, e das 16h às 19h, e no CAp-UFRJ, das 10h às 15h. A apuração ocorrerá no dia 16 de maio, até às 12h. Os recursos deverão ser apresentados até às 17h do mesmo dia e o julgamento dos mesmos acontecerá até às 12h do dia 19. Leia mais aqui.

Abaixo, segue a primeira das três partes da entrevista com o decano Marcelo Macedo Corrêa e Castro:

SeCom/CFCH – Quais são as atribuições de um decano?

Marcelo Macedo Corrêa e Castro - Dirigir o Centro. Estatutariamente, o Centro tem duas atribuições: a primeira, mais acadêmica, é fomentar o desenvolvimento da área. Como você fará isso vai depender do programa de trabalho. A outra é de fazer a intermediação, o que é uma função mais política. A estrutura superior é a Reitoria e as pró-reitorias. Nós somos a estrutura média e a estrutura básica são as unidades. O decano tem assento no Consuni (Conselho Universitário) e no CSCE (Conselho Superior de Coordenação Executiva) para isso. 

Com o passar do tempo, o que aconteceu é que, até os anos 1980 (os centros foram criados a partir do Decreto 66.536, de 6 de maio de 1970), na época do Horácio (de Macedo, primeiro reitor brasileiro eleito pela comunidade universidade, exerceu o cargo na UFRJ entre 1985 e 1989), fez-se uma descentralização que deixou as decanias sem saber o que fazer. Na minha opinião, elas antes tinham uma obrigação burocrática tão volumosa que não havia nem como investir. No momento em que essa obrigação é distribuída e as unidades passam a ter os seus próprios setores, os centros ficaram um pouco esvaziados. Acho que eles foram muito revalorizados no contexto da crise da gestão do (José Henrique) Vilhena (reitor da UFRJ entre 1999-2002) e depois com toda a tentativa de superá-la com o (Carlos) Lessa (reitor da UFRJ entre 2002 e 2003) e o Aloísio (Teixeira, reitor da UFRJ por duas gestões, entre 2004 e 2011). Acho que ali foi o momento em que os centros foram retomados. Tivemos a sorte de ter uma decana muito atuante (Suely Souza de Almeida, decana do CFCH entre 2004 e 2008), que compreendeu muito bem essas duas atribuições: de valorizar a área das Ciências Humanas e de fazer uma espécie de “meio de campo” entre as unidades e a Reitoria e pró-reitorias. 

SeCom/CFCH – Seria então um misto de função política e administrativa?

Marcelo Macedo Corrêa e Castro - E acadêmica. Nada disso pode ser feito sem uma concepção do que é Ciência Humana, do que é Universidade, do que é graduação, pós-graduação. Tem que haver uma discussão acadêmica na hora de decidir sobre um edital de apoio a eventos, por exemplo. Não é só dividir o dinheiro matematicamente, mas vamos dividir a partir de uma visão acadêmica, que tipo de evento será apoiado? Todos? Apenas os de grande porte? Apenas os de pequeno porte? Então é o conjunto, muito difícil separar essas três esferas: política, administrativa e acadêmica. 

Quando a gente pensa negativamente as decanias, normalmente isso vem de uma visão que exacerba a (esfera) administrativa: “poxa, mais uma instância, mais um carimbo, mais um cartório por onde as coisas têm que passar”. Mas se você pensar na valorização do acadêmico e do político, há um fortalecimento do debate: ele tem que ser debatido em mais um lugar, não é um gesto cartorial. 

SeCom/CFCH – Tendo em vista essas funções, quais são as características que o senhor considera fundamentais para o exercício do cargo?

Marcelo Macedo Corrêa e Castro - É claro que nós temos uma literatura importante que destaca as características de liderança etc. Mas para não personalizar, a gestão acadêmica é feita por professores e pesquisadores que não são gestores de carreira. Eu preferiria não falar das características pessoais, mas sim, do que pode fortalecer uma gestão. A primeira coisa é o reconhecimento de que uma gestão se faz com muitos atores. E que o papel do decano, do(a) vice-decano(a), do(a)s coordenadore(a)s de integração, do superintendente só vai poder ser bem cumprido se a gestão contar com os demais atores. 

A lógica que nós seguimos foi a de que é preciso valorizar o profissional naquilo que ele sabe fazer. Eu não digo ao setor de Protocolo como funciona o protocolo. Eu nunca disse à Secretaria de Ensino como eu acho que eles devem trabalhar. A gente tem um conceito geral de gestão. Por exemplo, a gente tem que sempre ter a consciência de que somos servidores públicos e que o nosso maior compromisso é este, com o público e não necessariamente só uns com os outros. O que eu acho que a gestão precisa ter é apostar no compartilhamento de responsabilidades, no compartilhamento de projetos, no reconhecimento das expertises. Eu não vou dizer a você como se faz jornalismo. Você é jornalista. Eu vou fazer uma avaliação contigo e dar a minha opinião de decano, você vai dar a sua opinião de jornalista e a gente vai tentar construir uma solução juntos. Eu acho que a Decania depende muito da gestão da equipe e do conjunto das pessoas, não só as que ocupam cargos. Todas as pessoas precisam se sentir parte de um projeto que ele também constrói. Você vai dar responsabilidade a uma pessoa e precisa que ela esteja convencida de que aquilo vale a pena. O cara se sente parte daquilo. Acho que é o mínimo, né?

Mas para a Decania funcionar, uma outra parte fundamental é o Conselho de Coordenação, como um espaço em que as unidades, os órgãos e os segmentos ali representados constroem esse conceito. O decano é eleito para cumprir aquele programa, mas para cumpri-lo, ele precisa ser ininterruptamente negociado e renegociado com a realidade. Você tem que ter um projeto, ou seja, um conjunto de linhas de atuação hierarquicamente organizado, graus de importância, porque você já sabe que não vai conseguir fazer tudo. Então, o que você não vai efetivamente abrir mão, o que é mais importante? O importante é você não perder de vista o que você está construindo. Daqui a quatro anos será outra pessoa e essa coisa precisa estar fortalecida, não pode ser reconstruída de quatro em quatro anos, tem que continuar o processo. 

Para que esse processo não assuma cursos diferentes, você não pode jogá-lo fora. Então, como se constrói isso: mantendo alguma coerência, persistindo. Mas você tem que insistir em uma coisa que foi pensada, construída coletivamente, e não agir assim: “qual é a bola da vez agora? O Reuni (Programa de Expansão e Reestruturação das Universidades Federais)? Então vamos atuar em função do Reuni”. Como nós recepcionamos o Reuni? As unidades recepcionaram de formas muito diferentes. Mas o conjunto das unidades pensou: “nós vamos seguir o Reuni naquilo que ele se encaixa na nossa história mais consolidada”. Então nós não podemos perder de vista que nós chegamos aqui neste ponto porque nós ampliamos este espaço de participação e construção coletiva. 

Todos esses avanços que obtivemos, como a distribuição de recursos, ampliação de vagas para professor... tudo isso tem a ver não com um decano ou uma decana, por mais carismática que fosse a Suely e que tenha procurado manter uma conduta de firmeza, não é porque esta pessoa é boa, é porque esta pessoa está trazendo a força de um coletivo um pouco maior. Este é o be-a-bá da política na universidade, que está preocupante hoje em dia. Cada vez mais a gente se sente representando um coletivo menor. Você vê isso no resultado das eleições, no quórum de votação cada vez mais reduzido. Eu usei aqui o lema “confiança, diálogo e respeito”. A gente tem que confiar uns nos outros, na capacidade dos outros, respeitar os limites, dialogar permanentemente, nos respeitar profissionalmente. A gente tem um quadro administrativo, se o administrador não sabe administrar, quem vai saber, sou eu, que me formei em português? Um problema da universidade que eu percebo é que as pessoas que têm mais poder de mando aprenderam a fazer tudo sozinhas, o professor é acostumado a ser o “homem-orquestra”. Então ele não tem nem o hábito de delegar tarefas. 

 

Clique aqui para ler a segunda parte da entrevista.

Clique aqui para ler a terceira parte da entrevista.

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