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Descolonizando o pensamento

Abertura do I ABE-África teve homenagem a Marielle Franco e palestra de Petronilha Gonçalves

Teve início na última quarta-feira (11/04), o I Encontro Internacional da Associação Brasileira de Estudos Africanos (ABE-África). O evento acontece, até o dia 13 de abril, no campus do Largo de São Francisco de Paula, no Centro do Rio, onde está sediado o Instituto de História (IH) da UFRJ, um dos organizadores do encontro.

Na mesa de abertura, o professor Sílvio de Almeida Carvalho Filho, do IH-UFRJ e presidente da ABE-África, saudou o público e os palestrantes e destacou a importância do evento: “Não é possível deixar de falar sobre a necessidade de promoção de debates sobre os estudos africanos em um momento de ascensão do fascismo no Brasil”, afirmou. Lise Sedrez, vice-coordenadora do Programa de Pós-Graduação em História Social (PPGHIS), endossou a fala de Carvalho Filho. “Quanto mais nós entendemos os estudos de História, menos nós percebemos que não é possível ficarmos restritos aos tradicionais autores europeus e desconsiderar os estudos africanos”, disse.

Em seguida, a professora Rose Cipriano, presidente do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação Básica (Sepe) de Duque de Caxias, integrante do Coletivo Minas da Baixada e militante do Partido Socialismo e Liberdade (Psol), foi chamada à mesa para prestar uma homenagem à memória da vereadora Marielle Franco, executada a tiros no Centro do Rio de Janeiro, no último dia 14. “O que eles não esperavam era que a Marielle fosse semente”, disse, em referência às inúmeras manifestações e clamores por justiça, em todo o país, para que as investigações policiais encontrem os mandantes e os executores da vereadora. 

“O que aconteceu não foi do nada. Em 2016, tiraram do poder a primeira mulher presidenta deste país. Agora, mataram uma parlamentar eleita, negra, lésbica e socialista. Marielle tinha lado. Por isso ela foi arrancada de nós”, afirmou, lembrando ainda o atentado contra a caravana do presidente Luís Inácio Lula da Silva, no Rio Grande do Sul, no dia 27 de março. Rose Cipriano lembrou que Marielle Franco denunciava o extermínio de jovens negros e moradores de favelas e periferias e criticava a intervenção federal de natureza militar no estado do Rio de Janeiro. “Ela dizia que não queria estar sozinha nessa luta. Não há mais volta para a conquista de direitos de mulheres, negros e LGBTs. Esse assassinato ocorreu em um momento de disputa no país. Precisamos lutar por nossos direitos. Essas mortes não podem ser em vão. A voz de Marielle continuará ecoando entre nós”, disse a professora antes de entoar “Marielle, presente! Anderson, presente! Agora e sempre!”, seguida em coro pelo público que lotou o Salão Nobre do Largo de São Francisco de Paula.

Como construir uma nova sociedade?

A conferência de abertura do evento - mediada pela professora Mônica Lima e Souza, vice-decana do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) e coordenadora do Laboratório de Estudos Africanos (LeÁfrica) - foi conferida por Petronilha Gonçalves, professora emérita da Universidade de São Carlos (UFSCar). Especialista em relações étcnico-raciais, práticas sociais e processos educativos, políticas curriculares e direitos humanos, a professora Petronilha foi indicada, em junho 2010 como Somghoy Wanadu-Wayoo, ou seja, conselheira integrante do Conselho do Amiru Shonghoy Hassimi O. Maiga, chefe do Povo Songhoy, no Mali. Em 2011, foi agraciada pela presidenta Dilma Rousseff com a Ordem Nacional do Mérito, no Grau Cavaleiro, em reconhecimento à sua contribuição à Educação no Brasil. “A importância de conhecer os estudos africanos é possibilitar um diálogo com os estudos brancos ocidentais”, afirmou.

A professora falou sobre a necessidade do processo de descolonização cultural. “Durante muito tempo, acreditou-se que ‘o povo que não tinha estudo acabava por se permitir escravizar’ e que ‘para se tornar civilizado, era preciso ser igual aos europeus’. Os estudos africanos têm a função de descolonizar o pensamento”, defendeu. “Os estudos africanos são uma forma de luta contra os colonizadores e a lógica da meritocracia. A meritocracia atrai aqueles que não pertencem aos grupos privilegiados para atuar em favor dos privilegiados”, completou.

Petronilha defendeu a criação de novas narrativas, que não excluam indivíduos e grupos étnicos e sociais. A professora também lembrou o pensador guineense Amílcar Cabral, que falava sobre a importância da Cultura na tarefa de resistência e de combate à dominação. “É através da Cultura que se aprende as diferentes maneiras de civilização”, disse, citando o teórico. Ela também falou sobre a importância do papel da Educação de qualidade. “Como eu me liberto de referências que podem ser nocivas ao conhecimento que eu quero produzir? É preciso formar vozes livres e qualificadas para uma nova sociedade. Mas, para isso, é preciso saber qual é o projeto de sociedade que nós queremos”, concluiu a professora. 

Para mais informações sobre o evento, clique aqui.

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Fotos: Pedro Barreto/SeCom/CFCH

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