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Uma homenagem àqueles que ousaram pensar diferente

No 55º aniversário do golpe de 1964, Nepp-DH realiza ato em memória dos professores, estudantes e técnicos mortos e desaparecidos na ditadura civil-militar

A manhã ensolarada da última segunda-feira, 1º de abril, lembrou um dia sombrio na história do país. O dia dos tolos de 2019 serviu para alertar os incautos que, sim, houve prisões políticas, torturas e mortes cometidas pelo Estado brasileiro durante a ditadura civil-militar, inaugurada na mesma data em 1964. Professores, servidores técnico-administrativos e estudantes da UFRJ foram perseguidos pelos generais que comandavam o país à época.

Como forma de homenagear aqueles que sacrificaram suas vidas na luta contra o autoritarismo, o Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos Suely Souza de Almeida (Nepp-DH) realizou um ato simbólico, que reuniu dirigentes, professores, técnicos e estudantes, em frente ao prédio da Decania do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH), a poucos metros do Auditório Professor Manoel Maurício de Albuquerque, que leva o nome do docente cassado, preso e torturado pelo regime militar. Vestidos com roupas pretas e segurando cartazes que clamavam “1964 nunca mais”, os membros da comunidade universitária da UFRJ manifestavam a emoção por lembrar de um tempo que não desejam reviver. 

Vantuil Pereira, diretor do Nepp-DH e vice-decano do CFCH, enfatizou o processo incompleto de consolidação da democracia neste país, no que diz respeito à violência, ainda hoje, cometida pelo Estado brasileiro principalmente contra a população negra. “Várias práticas não foram superadas, mesmo depois de 1985, como a violência contra a juventude negra, moradores de favelas, mulheres. Isso é a marca de uma sociedade extremamente violenta”, afirmou. “Este pensamento ainda está materializado em práticas do nosso cotidiano”, completou Pereira. 

Disputa de narrativas

Lilia Guimarães Pougy, professora titular da Escola de Serviço Social, falou a partir da perspectiva de gênero. “É importante a disputa de narrativas, que permitam ações concretas, e afirmar o campo dos Direitos Humanos. É preciso organizar uma reação na disputa de narrativas, sobretudo, mas não só, aquela que se refere aos direitos das mulheres”, disse Pougy. “Nós precisamos reforçar a dimensão democrática do ato pedagógico nas nossas ações para barrar o avanço dessa força conservadora que, muitas vezes, têm um discurso altamente palatável para a ‘chamada esquerda’. É preciso que essa disputa de narrativas ultrapasse o espaço da sala de aula e que, nas ações cotidianas, nós possamos fortalecer o campo que proclama ‘ditadura nunca mais’”, completou e decana do CFCH na gestão 2014-2018.

Marcelo Macedo Corrêa e Castro, atual decano do CFCH, enfatizou a conquista da democracia através das lutas sociais. “Eu sonhei durante muitos anos com a democracia e agora eu tenho a tarefa de explicar para os meus filhos e para o meu neto o que era uma ditadura. Eu não queria dar essa explicação sob a tensão de que ela voltasse a ocorrer. O regime ditatorial não trouxe benefício algum, apenas fraturas, cisões, marcas gravíssimas”, afirmou. “As gerações que vieram depois de mim não sabem o que é não viver com a participação democrática. Para não viver assim, temos que ocupar os espaços de participação. A democracia é uma conquista, um esforço humano e não algo de uma suposta natureza humana. Então, a minha palavra de ordem é ‘participação’ para que essa conquista não sofra retrocesso”, completou o decano.

O reitor da UFRJ, professor Roberto Leher, enfatizou o papel das instituições na defesa da democracia. “O Ministério Público Federal, de forma muito corajosa, destacou que o Estado não pode celebrar torturas, execuções sumárias, a barbárie que se instalou em uma das ditaduras mais brutais da segunda metade do século XX. Esta celebração ofende a todos os familiares que perderam seus entes, aqueles que foram brutalmente torturados e a memória histórica do nosso país”, frisou. “A universidade sofreu muito na ditadura. Perdemos estudantes, professores e técnicos. Além das mortes, muitos foram expulsos da universidade por terem cometido o delito de pensar diferente. O AI-5 e o Decreto 477 quebrou a trajetória de vida de muitas pessoas em nossa e em outras universidades em nosso país”, citou Leher, em referência ao Ato Institucional número 5, que cassou mandatos parlamentares e suspendeu garantias constitucionais dos cidadãos brasileiros, e o Decreto 477 de 1969, que puniu com a pena de expulsão das universidades docentes, estudantes e servidores técnico-administrativos, considerados subversivos. 

Construindo espaços de liberdade

“O Nepp-DH e o CFCH estão marcando esta data como aquela em que nós temos que fazer um balanço crítico do nosso passado, mas sobretudo, do nosso presente e para onde o nosso país está caminhando. É obviamente um gesto necessário e a favor daquilo que a universidade tem de melhor, que é a sua capacidade de projetar cenários” destacou o reitor. “A nossa universidade deve contribuir para a construção de espaços de liberdade, de liberdade de cátedra, e, sobretudo, que possibilitem forjar outro futuro baseado nos direitos humanos, na igualdade, na fraternidade e numa sociedade que recusa o ódio”, continuou. “Sempre uma ditadura e a cultura do ódio envolvem a negação da humanidade do outro. Por isso, é racista, machista, homofóbica, transfóbica e tem todo tipo de aversão que os setores arcaicos consideram um padrão de ‘normalidade’. Essa ‘normalidade’ se chama barbárie. E por este motivo as nossas lutas são mais emergenciais do que nunca. Nós temos que dimensionar com muita precisão o lugar das universidades e para onde vamos caminhar no futuro com as nossas instituições públicas”, concluiu Leher. 

Jorge Ricardo Gonçalves, professor da Faculdade de Educação (FE) da UFRJ, falou das torturas que sofreu durante o regime militar por ter se recusado a delatar os companheiros de militância política. O docente falou sobre o papel pedagógico em sala de aula. “O professor é limitado em sua atuação política e ideológica. Se nem pai e mãe conseguem fazer a cabeça dos filhos, muito menos o professor. Essa ideia de que os estudantes são pessoas vazias e que o professor injeta ‘ideologias malévolas’ em suas cabeças não existe. Quem fala isso não entende como se dá o processo pedagógico. Por outro lado, a violência também não muda a posição político-ideológica de ninguém. Continuo o mesmo que era antes da prisão e da tortura, ou seja, uma pessoa que se recusa a aceitar a opressão, venha de onde vier”, finalizou o professor.  

Ao final do ato, a professora Maria Celeste Marques, vice-diretora do Nepp-DH, leu em voz alta os nomes de 25 dos professores e estudantes da UFRJ mortos e desaparecidos durante o regime militar, seguido do grito dos participantes de: "presente!". São eles:

1.Adriano Fonseca Fernandes Filho 

2.Ana Maria Nacinovic Corrêa 

3.Antônio de Pádua Costa

4.Antônio Teodoro de Castro

5.Antônio Sérgio de Matos

6.Arildo Airton Valadão

7.Áurea Eliza Pereira Valadão

8.Ciro Flávio Salazar e Oliveira

9.Fernando Augusto da Fonseca

10.Flávio Carvalho Molina

11.Frederico Eduardo Mayr

12.Guilherme Gomes Lund

13.Hélio Luiz Navarro 

14.Jana Moroni Barroso

15.José Roberto Spigner

16.Kleber Lemos da Silva

17.Lincoln Bicalho Roque

18.Luiz Alberto Andrade e Sá e Benevides

19.Maria Célia Corrêa

20.Maria Regina Lobo Leite Figueiredo

21.Mário de Souza Prata

22.Paulo Costa Ribeiro Bastos

23.Raul Amaro Nin Ferreira

24.Sonia Maria Lopes de Moraes

25.Stuart Edgard Angel Jones

 

Créditos das fotos:

Foto 1 (cartaz): Murilo Mota/Nepp-DH/UFRJ

Demais fotos: Pedro Barreto/SeCom/CFCH

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