Graziela iniciou o debate trazendo à tona o papel fundamental das mulheres, tanto na Literatura, como na Revolução de 1917. “Nós conhecemos muito pouco as mulheres da Literatura russa. Mas o mais perturbador não é a quantidade de mulheres desconhecidas. Mas sim, que elas raramente permanecem na história da Literatura, tanto em séculos anteriores como agora, mesmo que tenham passado toda sua vida dedicada à Literatura”, afirmou. Em seu livro “A Revolução das Mulheres”, lançado após o debate, a pesquisadora resgata a memória de revolucionárias russas, como Anna Andréievna Kalmovitch, que escreveu panfletos e contribuiu decisivamente para o êxito do movimento, ainda que seu paradeiro após a revolução seja ignorado. “Se a mulher não estiver acompanhada do marido, sua participação será desestimulada e até rechaçada”, disse Graziela, citando a frase de Andreiévna. A pesquisadora também mencionou os feitos de Inessa Fiódorovna Armand (1874-1920), que teve atuação destacada como ativista bolchevique, escrevendo panfletos sobre feminismo e contra a família tradicional. Inessa fundou e lecionou em escolas para camponeses nos arredores de Moscou e participou ativamente nas revoluções de 1905 e de fevereiro e outubro de 1917.
Graziela também falou sobre Nadiéjda Konstantínovna Krúpskaia (1869-1939), que passou à história como a companheira de Lênin. “Devemos evitar associar as mulheres revolucionárias a seus companheiros, mas neste caso não temos como escapar a esta menção”, ponderou a pesquisadora, para logo em seguida enumerar a relevância da revolucionária. “É preciso ensinar os meninos, juntamente com as meninas, a costurar, a fazer crochê, a remendar a roupa branca, ou seja, tudo aquilo sem o qual não se pode viver e cujo desconhecimento torna a pessoa impotente e dependente dos outros. O entusiasmo pelo trabalho fará com que o menino logo se esqueça do seu desdém pelas ‘coisas de mulher’”, disse a pesquisadora, mencionando uma passagem de um panfleto escrito por Nadiéjda Krúpskaia.
A revolução está em curso
O historiador Henrique Canary passou à discussão de aspectos pouco conhecidos sobre a revolução, como a troca de cartas entre o historiador menchevique Nikolai Sukhanov e o líder revolucionário bolchevique Vladimir Ilyich Ulyanov, mais conhecido como Lênin. Canary retoma o episódio em que Sukhanov questiona o êxito da revolução bolchevique na Rússia, pois, segundo ele, não era possível transformar aquele país em uma pátria socialista. “Eis que Lênin, surpreendentemente, responde que a afirmação é ‘inequívoca’, mas que não havia o que ser feito diante das condições históricas de se fazerem as premissas para uma nova civilização. Ou seja, para Lênin, a Revolução Russa foi imposta pelo processo histórico e se fez inevitável”, comenta o historiador. “O processo revolucionário russo seria uma ponta de lança para uma revolução europeia, mais especificamente na Alemanha, onde havia uma maior classe operária. A Rússia estava na periferia do capitalismo europeu e não se esperava que ocorre uma revolução socialista ali. O problema é que essa revolução europeia não aconteceu”, analisou Canary.
Já o professor Lincoln de Abreu Pena lembra a importância da III Internacional Comunista, em 1919, que tinha o objetivo de levar a revolução socialista para outras nações. A iniciativa foi desfeita em 1943, como parte do acordo com outros países para derrotar a Alemanha nazista. Ainda que com o fim da União Soviética, em 1991, Pena se mostra otimista quanto ao triunfo revolucionário socialista. “A revolução bolchevique imaginou a transição do capitalismo para o socialismo. Eu acredito que essa transição está em curso. A passagem do feudalismo para o capitalismo levou 400 anos. Uma das provas disso é que já há um consenso da incompatibilidade entre capitalismo e democracia”, analisou o historiador.
Por fim, o cientista político Carlos Serrano Ferreira enumerou alguns pontos do que denominou de “rupturas” com a velha ordem provocadas pelo processo revolucionário russo: o fim das revoluções burguesas; o triunfo de uma revolução em que as massas de oprimidos se mobilizam para reivindicar seus próprios interesses; a vitória do Marxismo como teoria científica do socialismo; a formação de um Estado que represente as classes trabalhadoras; a derrota do pensamento econômico liberal; e o rompimento com as antigas formas de relações internacionais. “Pela primeira vez na história foi assinado um tratado de autodeterminação dos povos: a Declaração dos Direitos dos Povos da Rússia”, mencionou. Para concluir, Serrano apresentou o que considera o argumento definitivo no embate entre capitalismo e socialismo. “Fala-se do fracasso do socialismo. Se isso que estamos vivendo é sucesso do capitalismo, eu não quero estar aqui para testemunhar o seu fracasso”, finalizou.
Foto: Cícero Rabello/CPM/ECO-UFRJ.
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