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Último dia de seminários sobre a Revolução Russa no CFCH debate os legados e perspectivas contemporâneas do socialismo

Na parte da manhã, foi realizada a mesa “A Revolução e o Mundo”, que contou com as presenças dos professores Marcelo Braz, da Escola de Serviço Social (ESS) da UFRJ, Carlos Eduardo Martins, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (IFCS), e Vantuil Pereira, do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos (Nepp-DH).  Braz iniciou o debate propondo a realização de mais eventos como este em espaços fora da universidade. “Temos que ampliar o debate sobre o legado da Revolução Russa”, disse. O professor da ESS-UFRJ destacou a relevância daquele processo revolucionário na contemporaneidade. “Se olharmos para a Europa hoje, veremos movimentos de esquerda que, mesmo que critiquem a Revolução Russa, reivindicam as suas bandeiras, em países como a Ucrânia, Grécia, Espanha, Portugal, entre outros”, apontou. “Este debate já foi mais atual, quando as políticas de bem-estar social ainda vigoravam. Mas, mesmo por isso, precisamos revitalizá-lo”, completou. 

Braz relembrou que o objetivo inicial da Revolução Russa era que esta fosse “o prólogo de uma revolução europeia”, o que não se concretizou. “Mesmo assim”, ressaltou ele, “a Revolução Russa impactou sobremaneira o mundo”. Entre os avanços, Braz citou o Estado de bem-estar social, que vigorou durante mais de quatro décadas na Europa. “A Revolução Russa representou a salvação do capitalismo mundial. Foi por meio da União Soviética que as forças aliadas venceram a 2ª Guerra Mundial. Além disso, o socialismo forçou o capitalismo a se restaurar, cedendo algum nível de democratização social para sobreviver”, destacou o professor.

O professor Vantuil Pereira traçou um paralelo entre a Revolução Russa e a luta pela descolonização do continente africano. Ele relembrou o papel do movimento pan-africanista, surgido nos Estados Unidos, nas décadas de 1920 e 1930, e que causou grande impacto na África nos anos 1960 e 70. A defesa da autodeterminação dos povos e a crítica ao imperialismo foram mencionadas como legados da Revolução Russa. “A presença de jovens intelectuais africanos em escolas e universidades europeias fez com que essas ideias frutificassem na África na segunda metade do século XX”, comentou. 

Ainda segundo Pereira, o papel dos países comunistas foi fundamental para contagiar o anseio de emancipação da população daquele continente. “A criação de frentes de libertação nacional na Nigéria e Argélia, principalmente, foi de enorme relevância. Também em Angola, Moçambique e Guiné Bissau, a participação dos partidos comunistas foi preponderante para o movimento de descolonização”, completou. O diretor do Nepp-DH também destacou a importância do movimento dos Panteras Negras, que reuniam a crítica ao capitalismo e ao racismo; e da militante política Angela Davis, que incorporou o componente de gênero ao debate sobre a questão racial. “Com isso, a defesa da necessidade da luta contra o racismo ganha novos elementos. Isso vai juntar os movimentos Pan-africano nos Estados Unidos e na África contra a dominação europeia”, afirmou.

Carlos Eduardo Martins, professor de Economia Política Internacional, analisou aspectos concernentes a esta temática. Para ele, “o conceito de ‘nacionalismo’ é um recurso ideológico da burguesia para derrotar o de ‘internacionalismo’, que representa um movimento de solidariedade internacional”, comentou. Ainda de acordo com Martins, o fim da União Soviética, em 1991, não representa necessariamente o colapso do socialismo. “O que ocorreu foi o fim da falsa polarização entre capitalismo e socialismo. Acreditar que isso é o fim dos ideais de uma revolução socialista é o mesmo que acreditar que o socialismo representa uma sociedade sem mercado e que o capitalismo representa o Estado mínimo. Não é o Estado que vai definir se uma sociedade é capitalista ou não”, analisou. O professor acredita que “hoje, nós nos encontramos em uma nova era revolucionária”. Para ele, “o que define a força de trabalho hoje é o conhecimento e a informação. O capitalismo recorre à financeirização. O trabalhador é superexplorado. Cada vez se exige mais qualificação do trabalhador, e o que garante a qualificação é o Estado. No entanto, a lógica da austeridade reduz os investimentos em educação e em qualificação. Como podemos acreditar que este modelo dará certo?”, indagou.

Prontos para a revolução socialista

Na mesa da tarde, “Perspectivas do socialismo contemporâneo”, o secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Edmílson Costa, também ressaltou as potencialidades de uma revolução socialista em pleno século XXI. “Todas as revoluções da história são resultado de momentos de crise. As revoluções apresentam oportunidades para grandes transformações. E nós estamos vivendo um momento de grande crise no sistema capitalista”, comentou. Para ele, no Brasil de 2017, “vivemos uma crise completa: econômica, social, ética e política”. 

Costa também procurou analisar a queda do governo petista, após 13 anos de gestão. “Há duas hipóteses: a primeira é que, após passar os primeiros anos em meio a uma bonança econômica internacional, com o aprofundamento da crise internacional, a burguesia começa a exigir uma nova política econômica. Como o PT realiza esta reforma de forma muito lenta, os grandes capitalistas exigem a sua saída do poder. A segunda hipótese está nas ‘Jornadas de junho de 2013’. Elas são realizadas por fora das instituições e o PT deixa de ser um aliado funcional. Só que, ao dar o golpe, a burguesia o faz de forma atabalhoada, com a nomeação de notórios corruptos nos primeiros escalões do governo. Há então uma enorme rejeição a este governo. A insatisfação popular gera a divisão da burguesia, que se pergunta: o que fazer em caso de queda do presidente?”, comentou. 

Por esses motivos, Costa acredita que “o nosso país está maduro para uma revolução socialista. As condições objetivas estão dadas”. Além das manifestações de 2013, o dirigente comunista aponta as ocupações nas escolas em São Paulo, a recente manifestação em Brasília e a greve geral do dia 28 de abril deste ano. “A luta pelo socialismo vai ser uma luta muito dura, com muita repressão. A burguesia internacional não quer ‘perder’ o Brasil, que exerce grande influência na América Latina. É justamente por isso que devemos encampar esta luta”, completou.

O último debatedor do dia, Demian Mello, da Nova Organização Socialista (Nós), apresentou um cenário mais pessimista. Para ele, com o fim da União Soviética, “uma profusão de discursos anticomunistas passa a emergir. Historiadores de tendência conservadora escrevem tratados com o objetivo de promover ‘um novo Nuremberg’”, estabelecendo um paralelo entre o discurso anticomunista e o tribunal das forças aliadas para julgar os oficiais nazistas. De acordo com Mello, a existência de crises não necessariamente representa a iminência de uma revolução, mas sim, de um mecanismo do próprio sistema capitalista para se perpetuar. “Esta greve geral de 2017 não chega nem perto do que foram as greves dos anos 1980. Infelizmente também não acredito que a atual crise vá resultar em uma revolução socialista. Posso parecer um pessimista, mas partilho do pensamento de Antonio Gramsci: o pessimismo da razão e o otimismo da vontade”, concluiu.

 

Foto 1: Da esquerda para a direita: Vantuil Pereira, Carlos Eduardo Martins, Ricardo Figueiredo de Castro (mediador) e Marcelo Bráz.

Foto 2: Da esquerda para a direita: Edmílson Costa, Marco Aurélio Santana (mediador) e Demian Mello.

Créditos: Cícero Rabello/CPM/ECO-UFRJ

 

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