Fotógrafo e militante é homenageado com documentário exibido durante a programação do 7º ECOfoto
Na última quarta-feira (04/10), foi realizada a exibição do curta-metragem “A beleza de cada um: J.R.Ripper”. O documentário é resultado do trabalho de conclusão de curso dos jornalistas Cecília Castro e João Paulo Ripper, orientado pelo professor Aristides Alonso, da Faculdade de Comunicação Hélio Alonso, sobre a obra do fotógrafo João Roberto Ripper. O evento fez parte da programação do 7º Concurso Nacional de Fotografias (ECOfoto), promovido em parceria entre a Escola de Comunicação (ECO) e a Decania do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da UFRJ, através do Espaço Memória, Arte e Sociedade Jessie Jane Vieira de Souza.
Com uma vida dedicada à militância no jornalismo, João Roberto Ripper participou de lutas no sindicato da categoria antes de partir rumo ao trabalho autoral. A partir de então, passou a viajar pelo Brasil retratando a vida de pessoas que, na maior parte das vezes, são invisibilizadas pelos veículos de comunicação empresarial. “Quando você retira a beleza, e eu não falo só da beleza física, mas principalmente da beleza dos fazeres, você quebra a dignidade das pessoas. E aí você passa a cometer um crime do ponto de vista da comunicação, você passa a contar uma única história. Aí então você interrompe um processo de estudo do que é informação, do que é a comunicação. E quando você rompe com isso, essas pessoas têm a sua dignidade quebrada”, explica João Roberto Ripper em um dos trechos do filme que esclarece o título da obra.
Após deixar o fotojornalismo, Ripper abandona a ideia da imparcialidade que, ainda hoje, é enfatizada por profissionais como atributo imprescindível da área. “Eu sou a antítese do fotógrafo imparcial. Eu sou absolutamente parcial. Eu me apaixono”, afirma Ripper em outra passagem do documentário. O fotógrafo passa então a viajar para retratar a população indígena no Acre, Tocantis, interior de Minas Gerais e demais estados brasileiros. A partir de 2004, inicia um trabalho de formação com moradores do Complexo da Maré, na Escola Popular de Comunicação Crítica (Espocc), que resulta na Agência Imagens do Povo e na Escola de Fotógrafos Populares. “Militância é a palavra que define o trabalho do Ripper”, comenta o professor Dante Gastaldoni, da ECO-UFRJ, um dos entrevistados do documentário.
Ao término da sessão, os diretores conversaram com o público do Auditório da Decania do CFCH. Cecília Castro, que é também assessora de Comunicação da ECO-UFRJ, explicou os motivos pelos quais se interessou pela obra de Ripper. “Ele tem uma forma peculiar de enquadrar o objeto fotografado. Fica imerso nele até extrair a sua essência”, comentou. João Paulo Ripper, que é sobrinho do protagonista do documentário, lembrou uma fala do próprio: “Ele sempre diz que as pessoas fotografadas são co-autores daquela fotografia, no sentido em permite a abertura e dá liberdade para a realização daquela obra”, completou.
Mônica Góis, que assistiu ao filme e participou do debate, opinou: “Fiquei fascinada pela forma como ele mostra a dignidade das pessoas, tornando-as visíveis”, disse. “É a forma como ele fotografa: mostrando o que as pessoas têm de melhor”, argumentou Cecília Castro, justificando a escolha pelo título do documentário. “Muitas vezes é exatamente isso que nos falta ao olhar para o outro”, completou João Paulo Ripper.
O debate com o público abordou ainda o papel da Universidade na formação de comunicadores. “Há alguns anos talvez isso não fosse tão presente. Mas penso que, hoje, com a maior relevância da Extensão na universidade, está aumentando na universidade um olhar contra hegemônico como o do Ripper”, opinou Cecília. Moacir Barreto, professor aposentado da UFRJ, que esteve presente à sessão, também comentou o tema: “A Extensão na UFRJ é relativa nova. Ela começa em 1985, mas de forma tímida. Ainda hoje persiste, em alguns setores, uma visão elitista de que a universidade deve ser para poucos. Isso tem que acabar”, finalizou.
Para assistir ao filme na íntegra, clique aqui.
Foto 1: Reprodução do filme
Fotos 2 e 3: João Roberto Ripper
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