Coletivo de Mulheres do Serviço Social articula atividade de tecitura com estatísticas sobre violência doméstica no país

As unidades do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) estão mobilizadas, entre os dias 23 e 27 de outubro, para a Semana de Integração Acadêmica (Siac) - que engloba a 39ª Jornada de Iniciação Científica, Tecnológica, Artística e Cultural (Jictac), o 14º Congresso de Extensão, a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia (SNCT), a 9ª Jornada de Pesquisa e Extensão da UFRJ-Macaé e a 4ª Jornada de Formação Docente (Pibid). Ao longo da semana, estudantes, professores e servidores técnico-administrativos apresentam trabalhos de pesquisa e extensão universitária, visando a maior integração acadêmica entre as unidades e entre a comunidade universitária e o público externo.

Na Escola de Serviço Social (ESS), as estudantes Claudia Freitas Humia, Flávia Vargas Amarantes e Lilian Luiz Barbosa - que fazem parte do Coletivo de Mulheres do Serviço Social (Seso) -, além das professoras Mariana Guimarães (CAp-UFRJ) e Rita Cavalcante (ESS-UFRJ) apresentam o trabalho “O estupro no Brasil: a herança patriarcal que perpetua a violação de direitos das crianças, das adolescentes e das mulheres brasileiras”. A apresentação em forma de instalação está em exibição no corredor do primeiro andar da ESS. Além de objetos como roupas íntimas, sapatos, uniformes escolares, que lembram as práticas de violência sexual contra mulheres e crianças, também estão expostos dados estatísticos, extraídos de pesquisa realizada pelo Instituto de Pesquisas Econômicas e Aplicadas (Ipea) em 2013 e publicada em março de 2014. De acordo com os dados, estima-se que ocorrem anualmente no Brasil 527 mil estupros. Desses casos, apenas cerca de 10% chegam ao conhecimento da polícia*. “É importante dizer que esses dados evidenciam que, quando falamos sobre estupro no Brasil, as vítimas têm classe, gênero e cor: elas são majoritariamente do gênero feminino, da raça negra, da classe trabalhadora e utilizam o SUS”, destacou Claudia Humia.

De acordo com a estudante, a ideia do trabalho surgiu a partir do projeto de extensão “Arte do fio”, ministrada pela professora Mariana Guimarães, no CAp-UFRJ. Durante uma disciplina na graduação da ESS, Claudia, Flávia e Lilian tiveram acesso à pesquisa do Ipea e decidiram realizar o trabalho, articulando os dados estatísticos à prática de criação através dos fios. Na exposição estão também alguns poemas do livro “Outros jeitos de usar a boca”, da indiana Rupi Kaur, cuja obra denuncia a violência de gênero. Cláudia bordou em tecido alguns versos da poetisa que expõem o sofrimento de mulheres em todas as partes do mundo. Entre eles:

Nossos joelhos

Arreganhados

Por primos

E tios

E homens

Nossos corpos manipulados

Pelas pessoas erradas

Que mesmo numa cama segura

Sentimos medo. 

Alguns dados da pesquisa do Ipea presentes no trabalho “O estupro no Brasil” (HUMIA et al, 2017):

- Estima-se que ocorram no Brasil cerca de 527 mil casos de estupro por ano*; 

- 89% das vítimas são mulheres;

- Dessas, mais de metade tinham menos de 13 anos e 46% não possuía o ensino fundamental completo;

- 51% das vítimas são negras;

- 98% dos agressores são homens;

- 79% dos casos ocorrem dentro de casa;

- 70% dos casos são cometidos por parentes ou amigos;

- Crianças e adolescentes representam 70% das vítimas;

- O consumo de álcool está associado a estupros numa ordem de 20% a 40% dos casos;

- 15% das vítimas engravidam;

- 79% não abortam;

- O estupro recorrente faz aumentar em 43% as chances de contrair Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs);

- Com a promulgação da Lei 12.015/09, o estupro passou a ser considerado crime contra a dignidade humana e a liberdade sexual;

- O horário de maior incidência de estupros contra as mulheres é entre meia-noite e 6 horas;

- O horário de maior incidência contra crianças é do meio dia à meia-noite e às segundas-feiras; 

*Em 2013, o Ipea levou a campo um questionário sobre vitimização, no âmbito do Sistema de Indicadores de Percepção Social (SIPS), que continha algumas questões sobre violência sexual. A partir das respostas, estimou-se que a cada ano no Brasil 0,26% da população sofre violência sexual, o que indica que haja anualmente 527 mil tentativas ou casos de estupros consumados no país, dos quais 10% são reportados à polícia. Fonte: IPEA. Disponível em http://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/artigo/21/estupro-no-brasil-uma-radiografia-segundo-os-dados-da-saude-. Última visualização em 25 out. 2017.

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