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CFCH - Centro de Filosofia e Ciências Humanas

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Entrevista Ana Maria Monteiro – diretora da Faculdade de Educação da UFRJ

No último ano da segunda gestão à frente da Direção da Faculdade de Educação, a professora Ana Maria Monteiro enfrenta os desafios do cargo. A precariedade das instalações no Palácio Universitário é o principal deles: paredes repletas de infiltrações, fiação elétrica vulnerável e tábuas soltas são apenas algumas das questões com que Ana Maria precisa lidar com frequência, e que se agravam diante da primeira ameaça de chuvas. A diretora confiou na promessa de construção de um novo prédio na Cidade Universitária que ficaria pronto em 2012, mas que teve a construção paralisada no ano passado, devido a problemas nas fundações e até hoje aguarda o aval da Procuradoria para dar prosseguimento. 

Nossa situação é bastante delicada. Não temos condições de manter 126 professores, que precisam fazer pesquisa, orientar, receber seus alunos, estudar”, afirma. Ana Maria tampouco consegue a aprovação de recursos para a realização de obras de melhorias. “Esse prédio é antigo, tombado como patrimônio histórico e, por isso, para fazer reformas é preciso considerar exigências e limites rigorosos. Por dois anos seguidos eu abri processo, levantei orçamento, procuramos ata para licitação para instalação de redes de internet sem fio, mas não foi autorizado porque já existe um projeto de reforma que prevê um orçamento específico para este fim. O mesmo vale para a instalação de câmeras, equipamentos melhores, rede elétrica, já que a nossa atual está muito precária. Enfim, trabalhar e estudar aqui está muito complicado”, completa.

Outro problema de difícil solução é a escassez do quadro técnico-administrativo. De acordo com a diretora, há uma carência de cerca de 20 servidores. Os setores com maior urgência são o Financeiro e a Pós-Graduação. “Eu tenho uma lista de oito (funcionários) que já estão com tempo para se aposentar, mas que têm compromisso comigo e disseram que vão ficar até o final. E são ‘pessoas-chave’, que conhecem o trabalho”, resume.

Ana Maria também aponta as conquistas dos seus sete anos à frente da gestão, como o aumento substancial do quadro docente, de 56 para 129 professores efetivos, a expansão de vagas no curso de Pedagogia com a criação de um terceiro turno matutino, a melhoria no Programa de Pós-Graduação na avaliação da Capes, o sucesso do Programa Nacional de Alfabetização na Idade Certa, a parceria com a Escola de Educação Infantil e o Colégio de Aplicação (CAp), entre outras. “Do ponto de vista acadêmico nós crescemos muito. Estamos atuando em muitas frentes. O grupo de Educação Infantil e da Educação de Jovens e Adultos que temos agora, por exemplo, são excelentes. Os novos professores e funcionários estão dando uma cara nova à Faculdade, mas ainda esbarramos na infraestrutura”, analisa, sem se esquecer do principal entrave ao crescimento da unidade.

Por fim, a diretora frisa a importância da formação de professores para a universidade e para a Educação, em seu aspecto mais amplo.“Essa é uma área que precisa de mais investimento. A futura Reitoria precisa pensar nela como prioridade, pois é uma demanda da sociedade brasileira que você tenha uma melhor formação de professores. Eu sinto falta na UFRJ de um discurso de valorização dessa formação. O que é valorizado aqui certamente é fazer pesquisa, ganhar bolsa Pibic (Programa Institucional de Iniciação Científica), o professor ser credenciado da Pós-graduação e, assim, a licenciatura continua sendo aquele trabalho que não é tão importante. É importante... mas não tem prestígio. Então eu acho que a gente precisa de um discurso com ações concretas para afirmar o engajamento dessa universidade com a formação de professores”, enfatiza.    

Leia abaixo a entrevista na íntegra:

SeCom/UFRJ: Qual o maior entrave para a consolidação de um projeto político pedagógico para a área da Educação na UFRJ hoje: a falta de professores ou a carência de infraestrutura? Por quê?

Ana Maria Monteiro: Hoje, certamente a falta de infraestrutura. Do ponto de vista do quadro docente, quando eu assumi a Faculdade (em 2008), eram 56 efetivos e 50 substitutos. De lá para cá, tivemos 72 novos professores concursados e 14 aposentadorias. Agora estamos com edital aberto para quatro vagas ainda. Chegaram professores novos, doutores, recém-doutores, doutorandos. Considero esse um dos pontos positivos da minha gestão e que foi possibilitado por essa política maior (Reuni). Tivemos a expansão da Pedagogia, que abriu 50 vagas, com o início do turno da manhã (antes só havia à tarde e à noite) e mais cinco no noturno. Mas nós participamos da formação pedagógica das 27 licenciaturas da UFRJ. Então, como elas também se expandiram, foram abertas novas vagas e foi nesse contexto que houve essa expansão. 

No entanto, como já é conhecido de todos, a expansão do Reuni (Programa de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais) não foi acompanhada da melhoria da infraestrutura. Atualmente, estamos vivendo uma situação de muita dificuldade em relação às instalações físicas do Palácio. Ocupamos a ala oeste do segundo andar do Palácio Universitário e outras instalações na Praia Vermelha, desde a sala de estudos do CFCH, os laboratórios da Pós-graduação, entre outras. Quando houve essa possibilidade de expansão, em 2009, fomos procurados pelo professor Aloisio Teixeira (então reitor da UFRJ), que nos perguntou sobre o interesse pela construção de um prédio novo na Cidade Universitária. Depois de um ano de discussões internas, concordamos com a ideia. Fizemos uma lista de exigências, no sentido de termos instalações adequadas para formação de professores no século XX: além das salas de aula, laboratórios, recursos tecnológicos e espaço para pesquisa e estudo. Devido a uma serie de problemas, esse prédio só começou a ser erguido em 2013, quando a promessa era ficar pronto em 2012. Ou seja, a  construção teve início apenas bem recentemente e, em 2014, as obras pararam por um problema nas fundações. O reitor nos informou sobre a retomada em 2015 para que o prédio fique pronto em 2016, mas até o momento a obra está parada.

Por essa razão, nossa situação é bastante delicada. Temos limites de espaço físico para oferecer condições de trabalho para 129 professores, que é o quadro atual, que precisam fazer pesquisa, orientar, receber seus alunos, estudar. Nós temos 11 salas (pequenas) de laboratórios de pesquisa no lugar que chamamos de “Anexo” (atrás do Instituto de Economia) e cinco no segundo andar. Então, são 16 gabinetes de pesquisa para 129 professores, o que dá uma média de seis a oito professores por sala. Eu mesma sou vinculada ao Núcleo de Estudo de Currículos, no qual seis professores compartilham uma sala pequena. Quando formos para esse novo prédio, teremos seis andares, 30 gabinetes de pesquisa, salas amplas refrigeradas, laboratório de artes, de cinema e audiovisual. E há uma oportunidade excelente nisso que é o prédio do CAp (Colégio de Aplicação), além das novas instalações da Escola de Educação Infantil, que serão construídos em áreas próximas. As nossas possibilidades de realização de estágio, por exemplo, ficarão muito melhores, porque, atualmente, o prédio do Colégio de Aplicação não comporta todos os nossos alunos em atividade de estágio. Temos em média 1200 alunos fazendo estágio por ano, mas o CAp comporta cerca de 500. Por isso temos que alocar os licenciandos em outras escolas da rede pública. Todo ano é uma logística complexa para conseguir vagas para todos eles.  

Voltando ao Palácio, esse prédio é antigo, tombado como patrimônio histórico e por isso, para fazer reformas é preciso considerar exigências e limites rigorosos. Por dois anos seguidos eu abri processo, levantei orçamento, procuramos ata para licitação para instalação de redes de internet sem fio, mas não foi autorizado porque já existe um projeto de reforma do prédio que  prevê um orçamento específico para este fim. O mesmo vale para a instalação de câmeras, equipamentos melhores, rede elétrica, já que a nossa atual está muito precária, a rede de internet cai. Enfim, trabalhar aqui está muito complicado. Além disso, há obras que são de responsabilidade da Reitoria, como a reforma do telhado e fachadas e que também tiveram o processo para sua realização muito demorado. Desde o incêndio da capela, em março de 2011, aguardamos o início da reforma que é urgente. As infiltrações decorrentes das chuvas têm afetado  o prédio de forma  intensa e prejudicam o nosso trabalho, danificam equipamentos e  instalações.

Outro aspecto importante de ressaltar é o Setor Financeiro. Eu não tenho equipe para fazer as  licitações necessárias. Os funcionários que eu tenho precisam pedir ajuda de colegas em outras unidades. Os dois funcionários do setor financeiro da FE trabalhavam em uma sala, mas quando começaram as obras de 2011 (que resultou no incêndio da capela do Palácio), eles precisaram ir para uma sala ao lado da CPM (Central de Produção Multimídia), mas também tiveram que sair no ano passado. Agora eles estão numa mesinha ali ao lado (na sala da Direção) e o arquivo deles está guardado em outra sala. Falta espaço e pessoal.

SeCom/UFRJ: Como está a questão da licitação para contratação da empresa para fazer a obra do Palácio? 

Ana Maria Monteiro: A última informação que eu tive dos arquitetos do ETU (Escritório Técnico da UFRJ) é que o processo licitatório foi iniciado em janeiro. No dia 28 de janeiro eles receberam propostas de três empresas, e agora as estão analisando para verificar a viabilidade em termos técnicos e financeiros e escolher a vencedora. Se não houver nenhum recurso, a previsão é que a obra seja iniciada em maio. Para isso, foi solicitado que nós liberássemos as salas de aula do lado do prédio por onde as obras vão começar. Mas aí surgiu um problema difícil de resolver: para liberarmos as salas, precisávamos de novos módulos para alocar as turmas. Naqueles já existentes não há espaço para comportar as 80 disciplinas (manhã, tarde e noite) do curso de Pedagogia. O professor João Batista Ferreira (coordenador de Integração Acadêmica de Graduação do CFCH) integrante da equipe coordenadora do Condomínio de Salas da Praia Vermelha nos disse que os espaços nos módulos e salas de aula ainda disponíveis na Praia Vermelha eram insuficientes para alocar mais 80 disciplinas dos três turnos do Curso de Pedagogia. As disciplinas dos cursos de licenciatura oferecidas pela Faculdade de Educação são oferecidas na Cidade Universitária – na Faculdade de Letras, em salas do CCMN (Centro de Ciências Matemáticas e da Natureza), do CCS (Centro de Ciências da Saúde), do CT (Centro de Tecnologia), da EEFD (Escola de Educação Física e Desportos), no CAp e nos módulos da Praia Vermelha. Para alocar as disciplinas dos três turnos do curso de Pedagogia, cujas aulas são ministradas em salas do Palácio Universitário, seria preciso que a Reitoria comprasse ou alugasse novos. Mas a Pró-Reitoria de Gestão e Governança (PR-6) informou que não havia recursos naquele momento - janeiro de 2015. Então nós mantivemos as turmas aqui e estamos vendo como vamos fazer. Por isso eu fiquei numa situação muito difícil. Se eu mantenho as turmas aqui, eles dirão que não farão a obra porque as salas não estão liberadas. Por outro lado, não tem onde alocar as turmas. Eles chegaram a pensar em pedir salas na UniRio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) e em outras unidades, o que é uma situação quase impensável. Então, numa reunião com os arquitetos ficou decidido que a obra vai começar por quatro salas que já estão interditadas desde o ano passado e vamos ver quando isso termina: no meio do semestre ou no final. Se for  no meio do primeiro semestre, a obra continua no corredor atrás da piscina, onde está localizado o Arquivo e o Almoxarifado. No segundo semestre, se a situação se repetir, veremos se a Reitoria já terá recursos para alugar mais módulos. A gente encaminhou assim e estamos aguardando porque a previsão é a obra começar em maio, mas há sempre fatores imponderáveis.  

SeCom/UFRJ: A Escola de Educação Infantil não tem professores efetivos em seus quadros e o CAp tem 100, quando o ideal são 120, segundo a Direção. Falta investimento na Educação Básica na UFRJ?

Ana Maria Monteiro: Eu acho que sim. No início do meu primeiro mandato à frente da Faculdade eu fiquei animada. Os recursos foram sendo ampliados - quando eu assumi em 2008, a parcela do orçamento participativo da Faculdade era muito pequena. E nós temos um potencial muito grande de trabalho com a formação inicial e continuada de professores, muitos projetos de pesquisa e de extensão. Mas do ponto de vista da universidade, acho que está faltando investimento sim. Eu solicito funcionários e não consigo. O reitor nos atende, vem aqui quando eu peço socorro, mas eu vejo que ele também não tem conseguido encontrar alternativas, pois estamos presos a um outro projeto (o Plano Diretor e a transferência para a Cidade Universitária). Aqui na Praia Vermelha a situação está muito difícil, sem investimentos. Então ele me diz: “quando a obra do Palácio terminar, a previsão é de vocês não estarem mais aqui”. Mas aí eu pergunto: “E se a obra do Fundão não sair, nós não vamos ficar aqui? Vamos para onde?” E não obtive resposta. Como assim? Então eu acho que é necessário, urgente que a Reitoria tenha uma atenção maior com a área da Educação.

Além da questão da infraestrutura, falta um fórum de discussão das licenciaturas. Nós temos no CEG (Conselho de Ensino de Graduação) a CPL – Comissão Permanente de Licenciatura – mas é um órgão de assessoramento. Falta um fórum para discutir Licenciatura, pensar projetos de formação de professores. Nós temos agora, por exigência do MEC, o Comitê Gestor de Formação de Professores da UFRJ. Mas também é uma instância que ainda não conseguiu se firmar. Por isso eu acho que essa é uma área que precisa de mais investimento, de apoio da Reitoria. A futura Reitoria a ser eleita precisa pensar nessa área como prioridade, pois é uma demanda urgente da sociedade brasileira que você tenha uma melhor formação de professores, tanto a inicial como a continuada. Eu sinto falta na UFRJ de um discurso de valorização dessa formação. O que é valorizado aqui certamente é fazer pesquisa, ganhar bolsa PIBIC (Programa Institucional de Iniciação Científica), o professor ser credenciado da Pós-graduação e, assim, a licenciatura continua sendo aquele trabalho que não é tão importante. É importante ..., mas não tem prestígio. Então eu acho que a gente precisa de um discurso com ações concretas para afirmar o engajamento dessa universidade com a formação de professores. 

SeCom/UFRJ: Na sua opinião, por que a carreira EBTT (Educação Básica Técnica e Tecnológia) não é valorizada na universidade?

Ana Maria Monteiro: Por um lado, eu acho que os professores do CAp são muito respeitados na universidade, pela tradição da qualidade do trabalho realizado no colégio. Mas realmente o fato de serem da carreira EBTT cria uma distinção em relação aos demais professores: eles ficam impossibilitados de serem registrados como professores de um curso, por exemplo, no Cespeb (Curso de Especialização Saberes e Práticas da Educação Básica), que exige que os professores sejam docentes do Ensino Superior, mesmo tendo título de Doutor, o que é o caso de muitos. Essa é uma questão, mas acho que não é específico da UFRJ, mas sim, do MEC (Ministério da Educação). Essa é mais uma razão pela qual a possibilidade da transferência para a Cidade Universitária nos animou. Os professores estarem ali próximos vai facilitar a ampliação e aprofundamento de muitas discussões, a realização de projetos conjuntos, a realização de um estágio supervisionado em condições adequadas para todos os estudantes dos cursos de licenciatura da UFRJ (devido à proximidade). Os professores e alunos relatam que os colegas têm um discurso nas aulas que não valoriza a carreira, que afirma que ser professor é menor, que só medíocre é quem faz esta opção. Isso é muito ruim. Já é difícil a carreira e se ainda tem esse discurso então... Além disso, temos a pressão do MEC no sentido de municipalizar o CAp e a EEI (Escola de Educação Infantil). Considero que ambos integram a universidade como espaços de formação de professores e de democratização da educação que são, construindo-se em experiência de referência para outras instituições.

SeCom/UFRJ: Como a senhora avalia a política de assistência estudantil para a Educação Básica na UFRJ?

Ana Maria Monteiro: Acho que não existe, não é? Isso é realmente precário. Eu me lembro da professora Celina (ex-diretora do CAp) sempre questionando isso. Ela tinha alunos que ficavam o dia inteiro no Colégio e não havia refeitório. Isso para o aluno da Educação Básica é muito precário. E mesmo para nós aqui da Praia Vermelha, pois não temos um restaurante universitário. Os permissionários que existem são precários. O que eu acho que melhorou foi a oferta de bolsas. Tivemos 71 bolsas de monitoria em 2015, por exemplo. A gente chamava os alunos e muitos diziam que não podiam aceitar, pois já recebiam bolsa. E precisam, porque o custo de vida nesta cidade é absurdo.  

SeCom/UFRJ: Internamente, na FE, qual o relato dos licenciandos sobre a experiência de atuar no CAp?

Ana Maria Monteiro: Eu sou professora de Didática e Prática de Ensino de História. Ingressei aqui para trabalhar com essas disciplinas e sempre trabalhei com as turmas  realizando estágio no CAp. Só parei com essa atividade quando  assumi a Direção, mas sempre militei neste sentido. Eu acho que a experiência no CAp é muito importante, eles têm um trabalho com estágio feito da maneira que considero correta. Os professores do Cap, por exemplo, têm horário previsto na sua carga horária para orientação dos licenciandos o que possibilita a realização  de planejamento, avaliação das atividades deles e dos licenciandos de forma conjunta conosco, ou seja, aquilo que os  autores que estudam formação de professores chamam de “reflexão teoricamente fundamentada sobre a prática”. Agora, nossos licenciandos, muitos deles moradores na zona norte e oeste, têm essa queixa de que é um lugar distante, e que o horário de início das aulas também não ajuda porque é muito cedo – 7 horas. Outra reclamação frequente é de que o CAp não oferece ensino noturno. Eles também têm o discurso de que é um colégio de elite. Eu digo para eles que não é um colégio de elite. Desde 1998, o ingresso é por sorteio e hoje o corpo discente está muito mais diversificado do que era antes. Eu sempre defendi que a realização do estágio supervisionado no CAp possibilita o desenvolvimento de um trabalho muito rico e criativo, decorrente da troca de saberes e experiências entre licenciandos, professores do CAP e da Faculdade de Educação. Depois de começar a trabalhar é que eles entendem isso e passam a valorizar a experiência.

Eu também sempre explico que eles têm ali uma referência, que é fazer um estágio num lugar em boas condições. Se você vai para uma escola onde o professor falta, que é desorganizada, é insuportável. Eles precisam ter experiência em uma escola que funcione e onde seja realizado um trabalho de qualidade e comprometido com o aprendizado de seus alunos. Têm que fazer visitas, conhecer outras escolas e instituições, mas o estágio precisa ser realizado em uma escola de referência. O CAp é uma delas, mas também tem passado por dificuldades em seu espaço físico. Além de uma crise muito séria que o Colégio passa por falta de professores. Agora eles receberam algumas vagas, mas que não atendem integralmente às necessidades. Eu me sinto às vezes impotente. Queria fazer mais coisas, mas é difícil.

Foto: Pedro Barreto / SeCom/CFCHSeCom/UFRJ: A Faculdade de Educação optou pela transferência para a Cidade Universitária mas,  as obras do prédio continuam paralisadas por problemas na fundação. Por contingências, a unidade acabou sendo severamente afetada pelo incêndio no Palácio Universitário. A senhora se arrepende da decisão da transferência? Considera que houve azar, falta de planejamento ou falhas na execução do projeto?

Ana Maria Monteiro: Eu não vou dizer que foi azar. Seria uma simplificação afirmar isso. Planejamento no nível macro houve. Pelo que eu soube - já que essa discussão não passou por nós, mas pela Administração Central – para que os recursos orçamentários para este projeto do prédio pudessem ser liberados era preciso a aprovação da Procuradoria, que representa a AGU (Advocacia Geral da União), e esse processo se alongou. Depois houve exigências por parte da Secretaria Estadual de Meio Ambiente, que não permitiu que se cortassem as árvores daquela área. Foi necessária uma negociação para garantir que fossem replantadas em local próximo. Por isso, só em 2013 a obra começou. A obra foi então iniciada em etapas: a primeira etapa foi a construção das fundações; na segunda etapa,  a construção das estruturas de aço dos andares que hoje nós vemos ao lado da Faculdade de Letras. Serão três unidades que constituem um Centro de Convergência CFCH-CCJE (Centro de Filosofia e Ciências Humanas – Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas): Educação, Facc (Faculdade de Administração e Ciências Contábeis) e Decania do CCJE (Centro de Ciências Jurídicas e Econômicas), uma residência universitária e um restaurante universitário. Só que aí, quando subiu o prédio, foi detectado um problema nas fundações. Foi então que a empresa contratada pediu um termo aditivo para fazer o reparo. A Procuradoria está realizando a análise e até o momento a obra está parada. O Márcio Escobar (diretor do ETU) me disse que já tinha sido aprovado o termo aditivo, mas com esse contingenciamento no orçamento eu não sei como vai ficar. Eu decidi assumir um segundo mandato na Direção da FE porque imaginei que esses problemas seriam resolvidos nos prazos definidos na época, mas é o que estamos vendo até aqui. Enquanto isso, aqui no prédio, houve o incêndio de 2011, o nosso arquivo (que ficava embaixo da capela) quase pegou fogo, os bombeiros foram muito competentes, mas ele ficou todo molhado. A  Reitoria nos ajudou com recursos para recuperar a documentação. Isso foi feito, o arquivo foi recuperado, conseguimos comprar estantes deslizantes, está tudo bem acondicionado, mas é uma sala que é atrás da piscina e que por isso tem muita umidade. Agora, com as chuvas, escorre água pelas paredes e afeta as estantes recém-adquiridas. Entende o que é a nossa carência de infraestrutura? Nós conseguimos recuperar o arquivo, fazer o espaço funcionar, as nossas arquivistas fazem um excelente trabalho, mas quando chove escorre água pela parede. Eu peço a ajuda da prefeitura  da UFRJ que me diz que precisamos aguardar o início das obras do telhado. Então, essa questão infraestrutural é muito difícil.

E por último tem a questão dos funcionários (técnico-administrativos). Eu estou numa situação grave de falta de funcionários. Tenho uma lista de oito que já estão com tempo para se aposentar, mas que têm compromisso comigo e disseram que vão ficar até o final do mandato. E são “pessoas-chave”, que conhecem o trabalho. Eu tenho um grupo muito bom mesmo. A equipe é excelente. Na secretaria da Pós-Graduação, por exemplo, eu estou com duas pessoas para fazer tudo. É muito pouca gente. O que eu tive também foram perdas por pedido de exoneração, por terem passado em outro concurso e a universidade não repôs, gente que ficou doente e se aposentou, etc. Além do que, agora, a empresa que era responsável pela portaria paralisou o serviço. Eu tenho dois funcionários antigos, porteiros, que estão se revezando para mantermos as portas abertas. Eu peço à PR-4 (Pró-Reitoria de Pessoal) e ela não tem conseguido me atender. No ano passado eu recebi dois servidores durante o ano inteiro. Não resta a dúvida que temos atravessado uma conjuntura difícil que se agravou no final do ano passado. Mas acho que a Educação precisa ser pensada como prioridade: isso implica pensar o ensino de graduação, a extensão, a nossa atuação como professores na Universidade e como formadores de profissionais, em especial professores da Educação Básica.

SeCom/UFRJ: Como a senhora analisa o papel da Administração Central na discussão sobre a construção de um projeto político pedagógico para a Educação na UFRJ? Que outros atores devem ser envolvidos?

Ana Maria Monteiro: A Administração Central tem o papel de induzir o debate, criar o espaço de discussão no Consuni (Conselho Universitário), na plenária de decanos e diretores, nos colegiados. Mas eu acho que as unidades envolvidas têm que fazer o debate, envolver os professores. Toda vez que eu vou à PR-4, PR-6 pedir ajuda, eu vejo que eles também estão com dificuldades. Eu não poderia dizer que eles estão nos discriminando. Acredito que há um conjunto de dificuldades nessa questão administrativa, mas que, quando houve um debate sobre o Reuni e as cotas, foi uma discussão realizada mais no âmbito do nível central. E eu acho que é o papel deles. O reitor Aloisio (Teixeira, ex-reitor) tinha um posicionamento democrático claro. Ele foi a todas as unidades envolvidas, fazia reuniões com os professores, alunos e técnicos. Dá trabalho, mas é importante. Mas, por exemplo, a discussão sobre os encaminhamentos das obras do novo prédio e do palácio aconteciam sem nossa participação.

E agora, com todos esses professores novos contratados por concurso, houve uma renovação. A gente está num momento de reconstituição do quadro docente e é necessário manter o respeito a uma política de democratização que nós construímos aqui para não criar nichos e um discurso de preconceito.

SeCom/UFRJ: Claro que as conversas com o governo federal se dão através do âmbito da Administração Central, mas a senhora acredita que falta um diálogo maior com o MEC?

Ana Maria Monteiro: Eu vi o (professor Carlos) Levi (reitor da UFRJ) muito pressionado nessa gestão. A CGU (Controladoria Geral da União) aqui dentro, fiscalizando. A autonomia da universidade não é total, a gente tem que respeitar as leis existentes. Mas eu vi uma situação de muita fiscalização e muita desconfiança com a gente. Por outro lado, para dar um exemplo, nós fizemos um esforço grande para a criação do Mestrado Profissional em História, iniciado em agosto passado, no qual a UFRJ é a coordenadora nacional. São várias universidades do Brasil que participam. Cada aluno deste curso que é professor da Educação Básica recebe uma bolsa de Mestrado, o que é muito bom para eles, significa valorização do professor e de sua formação. Quando os recursos da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior) de verba para custeio foram disponibilizados para esse curso, não foi possível utilizá-los por questões da legislação que regulamenta o orçamento das universidades públicas. Ou seja, antes os recursos eram escassos. Agora temos recursos, mas temos limitações para usá-lo, ainda precisam ser criadas formas de viabilização das novas ações e projetos.

SeCom/UFRJ: Diante de todo esse cenário, há alguma boa notícia?

Ana Maria Monteiro: A UFRJ e a Faculdade de Educação viveram uma grave crise no início dos anos 2000. Desde que eu assumi a direção (em 2008), tivemos um crescimento muito grande. Só o fato de nós termos conseguido realizar tantos concursos com essa infraestrutura que a gente tem foi uma grande vitória. Eu não tive nenhum problema com a Justiça, nenhum questionamento mais grave. A equipe de funcionários sempre foi pequena. Teve gente que acabou saindo, outros chegaram, e hoje eu tenho um grupo muito bom. A nossa pós-graduação, que era nível 3 na avaliação da Capes passou para 5. Temos hoje 36 professores credenciados na PG. Na seleção para o mestrado e doutorado 2015 tivemos cerca de 500 candidatos inscritos. No último edital para credenciamento na Pós-Graduação, nove docentes se candidataram e, sendo aceitos, seremos 45 docentes. O problema é que se isso acontecer teremos salas para novas turmas, orientações, pesquisa? O curso de Pedagogia cresceu em número de alunos – atualmente ingressam 150 estudantes por ano - a qualidade dos trabalhos monográficos melhorou. As atividades de extensão também foram muito ampliadas. Temos agora um Laboratório de Cinema e Educação - Lecav, coordenado pela professora Adriana Fresquet, no qual os alunos aprendem a fazer Cinema e onde também são desenvolvidas atividades de formação  continuada de professores para o aprendizado  do trabalho com essa linguagem  em educação. Ela já ministrou cursos no CAP, em escolas no Vidigal, e em outros municípios do Rio de Janeiro. Outro ponto forte foi que nós assumimos o Programa Nacional para a Alfabetização na Idade Certa - PNAIC, que é desenvolvido nos 92 municípios do estado do Rio de Janeiro. E tem sido muito bem sucedido envolvendo 12.688 professores dos anos iniciais, 662 orientadores de estudo, 53 formadores e 12 professoras supervisoras da Universidade. Além dos professores de 1º, 2º e 3º anos que participam, temos  outros que são ouvintes, pedindo para ir às reuniões. No ano passado, começamos a trabalhar com Matemática. Na última semana de fevereiro foi realizado um seminário regional com os professores desse curso. Acho que essa formação é um trabalho magnífico. Do ponto de vista acadêmico nós crescemos muito. Estamos atuando em muitas frentes.  O grupo de professores que atua com a formação  de docentes para a educação infantil que temos é excelente. Elas estão se estruturando agora e estão ajudando muito inclusive  com assessoria à Escola de Educação Infantil. Temos um grupo de professores que trabalha com a Educação de Jovens e Adultos e outro que trabalha com gestão escolar que abriram novas frentes de atuação na FE. Os novos professores e funcionários estão dando uma “cara” nova à Faculdade na qual educação é pensada como lugar de possibilidades, de criação, de desaprender e aprender, de desenvolvimento de pensamento crítico e propositivo. Mas ainda esbarramos na infraestrutura.

Por fim, queria reforçar a importância da parceria com o CAp e a Escola de Educação Infantil, que ela possa ser efetiva e se aprofunde. Nós temos que trabalhar juntos. Temos professores no CAp que fazem pós-graduação conosco. Temos trabalhado juntos, mas acho que isso tem que ser ampliado através de realização de projetos e parcerias. E pensar em Educação é pensar também nas outras licenciaturas. Um aspecto que me preocupa é que alguns professores de outros cursos de licenciatura comentam, às vezes, que as nossas disciplinas da formação pedagógica são desnecessárias, podem ser eliminadas do currículo. Alguns afirmam que nossos professores são “prestadores de serviço”. Mas não são. As unidades envolvidas nos cursos são parceiras, temos que trabalhar junto. Os cursos de licenciatura são da UFRJ e são oferecidos por docentes de duas unidades. Essa potencialidade que nós temos aqui é uma das grandes riquezas da UFRJ. Apesar de todas as dificuldades, a Licenciatura na UFRJ sempre teve importância, mais do que em outras universidades. E nossos  licenciandos são aprovados nos concursos públicos em boas colocações. A gente não pode perder isso. É um patrimônio que temos em relação à formação de professores. E que precisa sempre ser desenvolvido e aperfeiçoado. 

Não podemos esquecer que a docência é uma profissão de interações humanas. Educar alunos não é “ditar matéria”. Exige uma formação muito consistente e que considere as especificidades desse trabalho educativo. É preciso saber, compreender o que é ensinar História, Sociologia, Matemática, Biologia, e outras disciplinas,  caso contrário não dá nem para começar, mas é muito mais do que isso. A escola é um lugar de formação de cidadãos, contexto sócio-cultural complexo no qual, para atuar, precisamos  conhecer aspectos políticos, psicológicos, sociológicos, filosóficos, históricos, antropológicos relacionados às questões da  infância e da juventude no tempo presente com as demandas por reconhecimento das diferenças e de possibilidades de experiência política democrática. A docência na educação escolar nos desafia ao ato de  educar por meio dos diferentes saberes. Uma formação inicial e continuada que possibilite participar de atividades de ensino, pesquisa e extensão em condições materiais adequadas e de qualidade é demanda incontornável para que possamos avançar na formação  de professores e contribuir para a melhoria da qualidade da Educação em nosso país. 

 

Números da Faculdade de Educação da UFRJ:

- 129 professores efetivos (além dos substitutos);

- Corpo discente: 750 alunos no curso de Licenciatura em Pedagogia; 300 alunos na Pós-graduação stricto e lato sensu, 1.500 alunos em disciplinas pedagógicas dos demais 26 cursos de licenciatura da UFRJ

- Relação professor/aluno: 1 professor/19,3 alunos; 

“Está na conta. A gente ainda não consegue oferecer muitas disciplinas eletivas e atendemos as turmas das unidades localizadas na Cidade Universitária. Por isso oferecemos turmas aqui, no CCMN, no CT, no CCS, na Letras, Ifcs (Instituto de Filosofia e Ciências Sociais) e CAp. Uma disciplina para a qual temos carência é Libras, em que só temos três professoras, sendo que uma está de licença para qualificação. A Escola de Educação Física está solicitando a abertura de turmas  mas não temos. Estamos  com edital de seleção de professor substituto aberto para  uma vaga docente para  Educação Comunicação Libras e outra para professor do quadro permanente”, diz Ana Maria Monteiro.

- Funcionários: 40 funcionários com cinco licenciados por problemas de saúde. 

“O ideal seria termos mais uns 20”, avalia a diretora da FE-UFRJ.

 

Créditos:

Reportagem: Pedro Barreto / SeCom / CFCH

Foto de capa: Letícia Monteiro / CoordCom/UFR

Foto prédio Cidade Universitária: Pedro Barreto / SeCom/CFCH

Revisão final: Érica Bispo / CoordCom/UFRJ

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