Login

fb iconLog in with Facebook

CFCH - Centro de Filosofia e Ciências Humanas

Login

>> DESTAQUES

Curso de Extensão MVDH/Nepp-DH debate o racismo estrutural

No último dia 12, aconteceu o segundo encontro da sexta edição do Curso de Extensão Mídia, Violência e Direitos Humanos (MVDH), realizado pelo Núcleo de Políticas Públicas em Direitos Humanos Suely Souza de Almeida (Nepp-DH) da UFRJ. O objetivo da aula, que teve como tema os “Aspectos históricos do racismo estrutural”, foi refletir sobre como se fundamenta e se estrutura o racismo na sociedade brasileira e apontar caminhos para a luta antirracista. 

A mesa contou com a mediação da assistente social, mestranda em Serviço Social e especializanda em Políticas Públicas em Direitos Humanos Lilian Barbosa, e teve como palestrantes a professora Fernanda Barros, do Nepp-DH; a “artivista” (como ela mesma se apresenta) e pesquisadora da ONG Redes da Maré Tereza Onã; e Vantuil Pereira, historiador e diretor do Nepp-DH. 

Fernanda disse que a complexidade deste debate se explica pelo processo histórico de racialização, de "bipartição entre pretos e brancos e entre brancos e não brancos", e pelas origens e derivações do que vem a ser definido como racismo estrutural. A professora abordou a forma como o conceito de “racismo científico” se estruturou no mundo e no Brasil: as origens desta teoria e as teorias racialistas adotadas e difundidas institucionalmente por escritores e políticos brasileiros dos séculos XIX e XX (dentre eles Getúlio Vargas, Monteiro Lobato e Euclides da Cunha). Fernanda explicou que, no Brasil, as ideias de nação e de território estão vinculadas à de raça e que o racismo é estruturante das relações sociais. “É através da cultura que se constrói a discriminação. A cultura faz a diferenciação através dos distintos grupos. Não é a instituição, mas o próprio grupo que separa, diferencia, discrimina”, afirmou.

A artivista e pesquisadora Teresa Onã disse que o conceito histórico de “eugenia” - do grego “bem nascido”, “provido de competências intelectuais” - foi utilizado pelos racialistas do final do século XIX para justificar a separação de pessoas por raças e legitimar uma suposta superioridade da raça branca. Onã também afirmou que as ideias eugenistas, ao chegarem ao Brasil no começo do século XX, foram rapidamente acolhidas pelas elites, chegando a ser adotadas no país, inclusive, na área da Educação. A forma como o racismo foi institucionalizado, desde a formação da sociedade brasileira, foi outro tema abordado pela pesquisadora. Onã mencionou as leis criadas desde o século XVIII que institucionalizam a exclusão do negro da cidadania plena, como a lei que impedia o acesso do negro à escola, a que criminalizava os “vadios” e “capoeiras”, entre outras. Segundo a artivista, “para vencer o racismo é fundamental melhorar as práticas no sistema educacional brasileiro. Os piores índices educacionais estão localizados entre os pretos. Se a questão é de classe, essa classe tem cor”, concluiu.

O terceiro palestrante do dia, professor Vantuil Pereira, afirmou que o racismo institucional estrutura a nossa sociedade, pois ocorre no âmbito das instituições. O historiador comentou os recentes cortes promovidos na área da educação pública pelo governo federal. “Cortar verbas da educação pública é uma medida institucional racista, pois prejudica principalmente a parcela mais pobre da população, em sua esmagadora maioria formada por pretos. Essas pessoas têm na Educação a forma de ascender socialmente e as políticas públicas de saúde, renda, trabalho e educação são as formas de buscar dignidade”, disse.

Para Vantuil, o conceito de racismo institucional, que surgiu da década de 1960, nos Estados Unidos, com a ascensão do movimento antirracista “Black Power” (Poder Negro), trata da discriminação indireta que se dá no seio das instituições (escola, trabalho, mercado, saúde, entre outros). “No Brasil, desde a independência do país, ocorre um processo de embranquecimento da população, através do fortalecimento do processo ideológico da figura do mais claro (o branco propriamente dito, o mestiço, o mulato) como valor. Isso tem como objetivo evitar políticas públicas voltadas para a igualdade. Não se define quem é preto. Então, como se construir políticas públicas?”, indagou.

De acordo com o professor, a sociedade brasileira não se formou enxergando-se racializada e racista. “O Brasil sempre operou na perspectiva da hierarquia. Nesta hierarquia, o que nos separa é o status social e não a cor”, afirmou. Como exemplo, o professor citou o Censo do Instituto Brasileiro de Pesquisas Geográficas (IBGE), de 1974, em que 68 tipologias de cor foram apresentadas para que cada cidadão escolhesse a sua. “É necessário pensar o aqui e agora, tendo como norte a construção de direitos, o combate ao genocídio, a problematização da forma como se constroem as questões de hierarquização social, entre outros aspectos do enfrentamento à discriminação racial”, completou. “A luta antirracista deve acontecer através do acesso a direitos e da crítica à estrutura e às instituições que alicerçam e alimentam o racismo no Brasil”, concluiu.

Sobre o curso

O Curso de Extensão Mídia, Violência e Direitos Humanos teve início em 2013 e está em sua sexta edição (não foi realizado em 2016). O objetivo é servir como um espaço de diálogo horizontal entre a Universidade e moradores de favelas e periferias, comunicadores populares, lideranças comunitárias, integrantes de movimentos sociais e profissionais com atuação em favelas e periferias. A proposta é refletir acerca das representações da violência, em seus recortes de classe, étnico-racial e de gênero, e propor alternativas a elas. 

O formato das aulas será de mesas temáticas, em que estarão presentes professores, pesquisadores, ativistas e demais especialistas nos temas a serem abordados. As 13 aulas acontecem de 5 de agosto a 11 de novembro, das 17h às 20h, no Auditório do Nepp-DH, localizado no 3º andar do prédio anexo do Nepp-DH, no campus universitário da Praia Vermelha (Avenida Pasteur, 250, fundos, Urca). 

Confira abaixo a programação das próximas aulas:

26 de agosto: O extermínio da juventude negra. Palestrantes: Raul Santiago (Coletivo Papo Reto e Coletivo Movimentos) e Eliane de Lima Pereira (Promotora no RJ). Mediação: Jéssica Alves (advogada especialista em direito constitucional, vinculada à OAB Jovem Rio de Janeiro, pós-graduanda pela ENSP/Fiocruz).

2 de setembro: O que são Direitos Humanos? Professores: Pedro Cláudio Cunca Bocayuva (professor do Nepp-DH), João Ricardo Dornelles (professor da PUC-RJ e associado da ABJD) e Rogério Dultra dos Santos (professor da UFF e associado da ABJD) Mediação: Henrique Rabello (professor do Nepp-DH e associado da ABJD).

9 de setembro: Os Direitos Humanos enquanto luta social. Professores: Henrique Rabello (professor do Nepp-DH), Margarida Pressburguer (Advogada e associada da ABJD), Júlio José Araújo Júnior (procurador da República e associado ABJD) e Carol Proner (professora da FND-UFRJ e associada ABJD). Mediação: Akemi Nitahara (jornalista da EBC e mestranda pela ECO-UFRJ).

16 de setembro: A representação da violência na mídia hegemônica. Palestrantes: Pedro Barreto (jornalista da UFRJ e pesquisador do PPGMC/IACS/UFF), Tatiana Lima (pesquisadora PPGCOM/IACS/UFF e jornalista colaboradora do NPC) e Guilherme Pimentel (jornalista e advogado, ex-coordenador do Defezap). Mediação: Fábio Leon (jornalista do Fórum Grita Baixada).

23 de setembro: Comunicação e democracia no Brasil. Palestrantes: Akemi Nitahara (jornalista da EBC e mestranda pela ECO-UFRJ), Márcio Castilho (professor da UFF), Suzy Santos (professora da UFRJ) e Mônica Mourão (professora ESPM e integrante do Coletivo Intervozes). Mediação: Chalini Torquato (professora ECO-UFRJ).

30 de setembro: Violência contra mulheres. Palestrantes: Érika Carvalho (assistente social e coordenadora do CRMM-CR/Nepp-UFRJ), Lilian Barbosa (assistente social e mestranda da ESS/UFRJ), Renata Saavedra (jornalista e doutora em Comunicação e Cultura pela ECO/UFRJ), Ana Maria Leone de Jesus (assistente social, coordenadora da Unegro-Caxias e comunicadora popular) e Maíra Fernandes (advogada e associada ABJD). Mediação: Tatiana Rosa (advogada e professora da rede pública de Educação Básica).

7 de outubro: Violência contra LGBTs. Palestrantes: Pedro Paulo Bicalho (professor do IP/UFRJ), Bárbara Aires (ativista Trans, consultora de Gênero e Diversidade e assessora parlamentar), Gleyce Apolinário (historiadora e pós-graduanda em Estado, Governo e Democracia pela CLACSO/Argentina), Vitória Régia da Silva (jornalista e ativista) e Dani Balbi (professora da ECO-UFRJ) e Murilo Motta (sociólogo Nepp-DH). Mediação: Caíque Azael (psicólogo e mestrando do IP-UFRJ).

14 de outubro: Encarceramento e medidas socioeducativas: Vanusa Maria de Melo (professora e pesquisadora), Marilza Floriano (Frente Estadual Pelo Desencarceramento), Lívia Vidal (pedagoga do Degase), Eufrásia Maria Souza (Defensora RJ e associada ABJD) Mediação: Jonathas Corrêa (advogado, vinculado ao Núcleo de Estudos e Pesquisa em Lutas Sociais - NELUTAS, graduando em Ciência Política pela UNIRIO, pós-graduando pelo IPPUR/UFRJ).

4 de novembro: Alternativas narrativas:  Ana Maria Leone de Jesus (assistente social, coordenadora da Unegro-Caxias e comunicadora popular), Hélio Euclides (jornalista do jornal Maré de Notícias), Edilano Cavalcanti (comunicador do Fala Manguinhos), Fábio Leon (jornalista do Fórum Grita Baixada), Thaís Alvarenga (fotógrafa), Claudia Santiago (jornalista e coordenadora do NPC). Mediação: Marcelo Ernandez (jornalista, professor, pesquisador e coordenador do LCD/Uerj).

11 de novembro: Cultura como resistência: Pâmela Carvalho (produtora e gestora cultural com ênfase em espaços de favela e periferia, educadora e pesquisadora), Jack Rocha (cantora do grupo Moça Prosa e mestranda em Relações Etnico-raciais pelo Cefet/RJ), Beatriz Virgínia (cantora da cia bUsina Teatral, graduanda em História pela UERJ/estagiária do Observatório de Conflitos Urbanos/PIBIC pela Casa de Oswaldo Cruz), Thiago de Paula (produtor cultural e diretor da Companhia de Dança Passinho Carioca), Vitor Vanes (cartunista), Sallisa Rosa (jornalista, fotógrafa e artista indígena contemporânea) e Gaby Makena (professora, mestra em Educação, livreira e sócia da Timbuktu Livraria Ambulante). Mediação: Patrícia da Veiga (jornalista da UFRJ e doutora em Comunicação e Cultura ECO-UFRJ).

Mais informações estão disponíveis na página do curso.

Leia também:

6º Curso de Extensão Mídia, Violência e Direitos Humanos lança edital

*Estudante da Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ e extensionista do Curso de Extensão MVDH/Nepp-DH.

Compartilhe este conteúdo

Submit to Delicious Submit to Digg Submit to Facebook Submit to Google Bookmarks Submit to Stumbleupon Submit to Technorati Submit to Twitter Submit to LinkedIn Compartilhe no Orkut

Projetos de Extensão:

 

 

 

Redes sociais:

 




 

Especiais: 

 

 

 

  

 

Links úteis:

 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Aplicativo CFCH

 

 

© 2012 • Centro de Filosofia e Ciências Humanas  •  Universidade Federal do Rio de Janeiro    |    Todos os Direitos Reservados           |           Este site usa Joomla