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100 anos de UFRJ e 90 anos de DCE Mário Prata: nas lutas que a UFRJ se encontra

Especial UFRJ 100 anos¹

Por Caíque Azael Ferreira da Silva*

Uma universidade centenária. A idade denuncia que a UFRJ passou por períodos importantíssimos da história recente do Brasil e do mundo e a nossa memória coletiva nos lembra de que, em muitos desses momentos, fomos pontos de referência nas lutas por uma Universidade crítica, democrática e popular. Mudamos muito desde 1920. Mas ainda temos muito dessa época em nós. 

Hoje somos uma verdadeira multidão: milhares de estudantes e trabalhadores, que atuam em campos absolutamente diversos dentro e fora da UFRJ. E, em cada um de nós, ainda há um pouco dessas lutas que constituem nossa história, pois em toda geração há uma série de insurgências contra a precarização da vida em suas diferentes expressões: dos cortes na educação ao extermínio dos jovens negros nas favelas e periferias, das lutas contra a ditadura militar às jornadas por memória, verdade e justiça. Se hoje nossa querida Universidade segue existindo é porque, há 100 anos, há lutas para que ela siga aberta, pública, gratuita e para todos e todas. 

Construir as resistências e ocupar ruas, enegrecer e popularizar a Universidade, ter mais orçamento para que os estudantes possam permanecer com dignidade, ter mais estrutura para ensino, pesquisa e extensão, manter o caráter público e gratuito... Nada disso está dado. E podemos dizer que vivemos um dos momentos mais críticos para a educação pública. Tudo corre perigo. A cada ano, a redução do financiamento público nos apresenta a privatização como solução e as recorrentes perseguições ao ensino crítico e à organização política coletiva tentam cercear a construção das resistências. A guerra contra as universidades, que se acirra após as eleições de 2018 no Brasil, reafirma a nossa ideia de que a educação possui uma capacidade invejável de destruir mitos. 

Seria um desrespeito com a história não falar que, no ano em que a UFRJ completa seu centenário, o Diretório Central dos Estudantes (DCE) completa seus 90 anos. O primeiro DCE do Brasil é uma das principais entidades estudantis do país – ajudou, inclusive, a fundar a União Nacional dos Estudantes. É de extrema relevância na história da nossa Universidade a organização política dos nossos alunos através dessas nove décadas de existência do glorioso DCE Mário Prata. O orgulho de ter construído essa entidade não é um sentimento autocentrado, mas é uma reverência aos milhares de estudantes que se movimentaram e ajudaram a mudar as estruturas da UFRJ, do Rio de Janeiro e do Brasil a partir da ação política. O quase centenário DCE Mário Prata é responsável por colocar nas ruas uma verdadeira multidão, por construir ativamente a vida da UFRJ. Seja nas festas, nos debates, nas panfletagens, nas manifestações, a bandeira branca e preta do DCE UFRJ é uma referência. 

Com alegria, constatamos que da UFRJ saem lutadores e lutadoras por um mundo melhor. E, com mais alegria ainda, localizamos a organização estudantil – seja no DCE, nos Centros Acadêmicos ou nos Coletivos Setoriais – como responsável pelo fomento do debate político, pela construção de formações críticas e implicadas nos problemas que atingem nossa sociedade. Especialmente, desde a aprovação das políticas de ação afirmativa, que são fruto de muita luta do movimento negro, vemos a UFRJ avançar cada vez mais na diversificação de seu corpo social, tentando ser, a cada dia, um reflexo mais próximo do que é a sociedade brasileira. 

Assim como muitos colegas, antes de ingressar na UFRJ, estudei em escolas públicas na periferia do Rio de Janeiro. E, quando ingressei na graduação, no Instituto de Psicologia, encontrei experiências de organização coletiva que são inspiradoras e que me convenceram do meu papel (e do papel da educação pública e do movimento estudantil) na invenção de um mundo novo. Pude participar das gestões do DCE da UFRJ enquanto estive na graduação, aprender muito nas lutas e construir muita coisa interessante pela UFRJ. Ouvi dizer que, para Mário Prata, esse era o maior DCE do mundo. E eu não duvido. Construímos com milhares de estudantes ações importantíssimas, dentro e fora da Universidade, pela educação, pela previdência social, pela democracia e por centenas de outros motivos. Pulsa resistência, pulsa inventividade. É evidente que desejamos para a UFRJ um futuro de glórias, de muitas mudanças, de expansões responsáveis, de menos evasão, de mais financiamento público. Mas espero que, em qualquer tempo, a Universidade siga sendo esse lugar que fomenta a construção política, o pensamento crítico, que desenvolve uma ciência comprometida com as demandas da população, que não se furta a lutar contra as injustiças, que não exclui a população negra, pobre, os moradores de periferias, a população trans e travesti. Espero que não demore mais 100 anos para a aprovação de políticas de assistência para mães e pais na Universidade, que não demore mais 100 anos para implementação de ações afirmativas e que nossa luta reinvente a UFRJ a cada dia. Que o movimento estudantil siga vivo, pulsante e plural como é. 

Um centenário pandêmico

Sim, queríamos que 2020 fosse um ano marcante para os 100 anos da UFRJ. Não foram poucas as tentativas de destruir a universidade pública, mas chegar aqui prova que houve muita resistência: o chão em que pisamos, o diploma que recebemos, os prédios em que estudamos... Tudo isso está de pé porque houve compromisso dos que vieram antes de nós. Mas chegamos em setembro de 2020 orgulhosos – não surpresos – com o papel que a nossa UFRJ está cumprindo no enfrentamento à pandemia do coronavírus. Da Presidência da República ao prefeito da cidade onde a maioria dos nossos cursos funciona, vemos irresponsabilidade com o povo. Mas a UFRJ segue firme, em seus hospitais, em seus laboratórios, produzindo equipamentos, produzindo pesquisas, colaborando com planos de enfrentamento ao coronavírus, construindo junto à sociedade brasileira formas de viver em tempos pandêmicos. Os estudantes, organizados pelo DCE UFRJ, estão entregando cestas básicas àqueles que não conseguem se sustentar por conta da pandemia e disputando pela liberação de editais de auxílio financeiro.

De uma forma diferente, 2020 se tornou marcante. Com momentos de muita tristeza, com a afirmação constante da importância da vida, com a impossibilidade do contato da forma como estamos acostumados, mas também com a necessidade de que nós não desistamos de sonhar com outro mundo. Nossos sonhos são o horizonte em que as mudanças podem ser fabricadas. A superação dos problemas que enfrentamos hoje não é uma tarefa simples. No entanto, durante todos esses anos de UFRJ, aprendi que sonhar e lutar junto é muito mais potente do que lutar sozinho. Que esse centenário, que acontece num momento diferente do que sonhávamos, ajude-nos a refletir sobre qual a UFRJ que queremos e qual papel queremos que a nossa Universidade cumpra daqui em diante. 

Talvez não exista uma resposta pronta para esse questionamento. Mas espero que em nossos próximos centenários a gente já viva os tempos da liberdade para todos e todas. Que o direito de estudar não seja de poucas pessoas. Que a formação de qualidade, com perspectiva crítica e a organização política coletiva jamais deixem de ser nossas marcas principais. Somos combativos e produzimos ciência de qualidade. Que venham mais 100, 200, 300 anos de UFRJ. E que ela seja, a cada dia, mais popular, insurgente e comprometida em transformar não só a realidade brasileira mas também contribuir para a virada do jogo e construção de um mundo livre de toda forma de exploração e violência.

*Caíque Azael Ferreira da Silva é bacharel em Psicologia pela UFRJ e discente (bolsista Capes) do curso de Mestrado em Psicologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Fez parte da Diretoria de Infraestrutura (2015-2017) e Assistência Estudantil (2017-2019) do Diretório Central dos Estudantes da UFRJ − DCE Mário Prata e foi membro do Centro Acadêmico Franco Seminério (2015-2019). Atualmente, é pesquisador do Dicionário de Favelas Marielle Franco (Fiocruz). E-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. . 

¹ Este artigo é parte do Especial UFRJ 100 anos, realizado pelo Setor de Comunicação da Decania do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (Secom/CFCH) da UFRJ. Servidores docentes e técnico-administrativos, discentes e trabalhadores terceirizados refletem sobre esta Universidade no ano em que ela completa um século de existência. Os textos apresentam as visões, experiências e saberes de quem contribui para que a UFRJ mantenha a sua excelência, produza conhecimento plural, diverso e democrático, apesar de todos os desafios impostos. Para sugerir um artigo a esta série, envie um e-mail para O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. , até o dia 02/09. Os textos devem ser redigidos em fonte Times New Roman, tamanho 12, espaço entre linhas 1,5 e ter até 10 mil caracteres com espaço. 

 

Leia também:

UFRJ 100 anos: Cem anos sem envelhecer, por Marcio Tavares d´Amaral 

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