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CFCH - Centro de Filosofia e Ciências Humanas

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Entrevista com Lilia Guimarães Pougy, decana do CFCH

 

Nos dias 18, 19 e 20 de junho, a comunidade do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) participará da pesquisa eleitoral que indicará o seu novo decano. Nesta entrevista dividida em três partes, a atual decana, Lilia Guimarães Pougy, professora titular da Escola de Serviço Social (ESS) da UFRJ, fala sobre os legados da gestão 2014-2018, os desafios que deixa para o futuro dirigente e as perspectivas da área das Ciências Humanas e Sociais para o quadriênio 2018-2022. Na primeira parte, a decana destaca as iniciativas de integração acadêmica, como a criação do Espaço Memória, Arte e Sociedade Jessie Jane Vieira de Souza, que inaugura no próximo dia 23 a sexta curadoria: "Migrações e refúgio: presença, história e desafios no Rio de Janeiro". Lilia também enfatiza a aquisição de equipamentos via edital ProInfra, que permitirá não apenas aos programas de pós-graduação, mas a toda comunidade acadêmica do campus da Praia Vermelha, o acesso a modernos laboratórios multimídia. “A integração não é só um ajuntamento, é construção de consenso, ela envolve processo político, envolve disputa, desde a definição da temática até a realização dessas curadorias. E essa integração acadêmica passa pelo Conselho de Coordenação de Centro, para que ela não fique restrita ao protagonismo de sujeitos, que são voláteis. As pessoas passam pelos lugares, mas é importante que a marca da integração acadêmica, sendo uma marca do Conselho de Coordenação de Centro, consiga despertar nas unidades um assenhoramento desse espaço como seu, ainda que não sob sua responsabilidade direta e imediata”, diz a decana. 

SeCom/CFCH: Desde 2015, a universidade pública vem sofrendo sucessivos e progressivos cortes em seu orçamento de custeio e de investimentos. As áreas das Ciências Humanas e Sociais tradicionalmente não estão dentre aquelas mais contempladas por recursos. Como foi administrar o Centro em meio a este cenário?

Lilia Guimarães Pougy, decana do CFCH: O contingenciamento financeiro das universidades públicas é anterior a 2015. Desde 2013, 2014, os recursos já vinham sendo contingenciados. Mas desde a primeira gestão do professor Aloisio Teixeira (2003-2007), houve uma distribuição equânime dos recursos para todas as decanias de todos os centros universitários, independentemente do número de cursos e unidades acadêmicas. Então, isso não resolveu as distorções na estrutura média (decanias). Existem áreas que têm mais condições de captar recursos do que outras, e a área das Ciências Humanas e Sociais não está entre elas, assim como a área de Letras e Artes (CLA). Mas o grande problema da distribuição do orçamento participativo na universidade é que ele não corresponde mais àquele cenário em que foi construído: número de alunos das unidades acadêmicas, comparecimento nas atividades de ensino de graduação e de pós-graduação e nas de extensão. No âmbito do CFCH, nós temos distorções sérias. Por exemplo, foram criados o Instituto de História (IH), o Núcleo de Estudos de Políticas Públicas em Direitos Humanos Suely Souza de Almeida (Nepp-DH) e a Escola de Educação Infantil (EEI). No caso do IH, o seu orçamento não corresponde aos valores destinados às unidades com o número de estudantes de graduação e pós-graduação ingressantes e egressos, número de programas de pós-graduação, de laboratórios de pesquisas e de docentes.  

Em suma, existem distorções vigorosas do ponto de vista do financiamento entre as áreas da universidade e também entre as nossas unidades, que nós não fomos capazes de enfrentar colegiadamente. Porque isso não é um assunto isolado, mas sim, um tema político, que deve ser discutido colegiadamente no âmbito do Conselho de Coordenação do Centro. E, não obstante a criação das comissões permanentes, não houve condições políticas para que nós enfrentássemos esse desafio de rever e provocar na universidade um rearranjo daqueles parâmetros. Ninguém quer discutir orçamento, sobretudo aquelas unidades que têm um orçamento maior. Desde o período da gestão anterior da Decania (2010-2014), foram criadas, no âmbito deste Centro, a Escola de Educação Infantil, um órgão suplementar do CFCH, que só tomou conhecimento sobre o orçamento recentemente.

Antes disso, já havia sido criado o Nepp-DH, que tem um orçamento formal, a exemplo do Instituto de História. Outro nível de distorção: a Escola de Serviço Social (ESS) recebe o menor número de recursos do orçamento participativo, não obstante ofereça todas as suas salas para uso coletivo no condomínio de salas de aula da Praia Vermelha. Isso significa não ter recursos para promover obras hidráulicas, elétricas para a própria manutenção do espaço, que é de uso coletivo. Então, nós queremos debater sobre o tema ultrapassando o aspecto financeiro, tensionando, provocando um debate a respeito dos critérios que estão dando sustentação a essa distribuição. 

 

SeCom/CFCH: A criação do Espaço Memória, Arte e Sociedade Jessie Jane Vieira de Souza (Espaço JJ) ficará registrada como a marca da gestão? A senhora poderia falar sobre esta iniciativa?

Decana: Eu não gosto do artigo definido. É uma das marcas. Eu prefiro achar que existam outras marcas. Sem dúvida, esse é um projeto que tem como marca a integração acadêmica, mas existem outros com essa característica. E esse é um desafio enorme porque é muito difícil efetivar esses postulados sobre a integração acadêmica. É muito mais fácil vocalizar a integração como princípio. Porque a integração não é só um ajuntamento, é construção de consenso, ela envolve processo político, envolve disputa, desde a definição da temática até a realização dessas curadorias. E essa integração acadêmica passa pelo Conselho de Coordenação de Centro, para que ela não fique restrita ao protagonismo de sujeitos, que são voláteis. As pessoas passam pelos lugares, mas é importante que a marca da integração acadêmica, sendo uma marca do Conselho de Coordenação de Centro, consiga despertar nas unidades um assenhoramento desse espaço como seu, ainda que não sob sua responsabilidade direta e imediata. Em resumo, eu acredito que o Espaço JJ é uma das marcas na tentativa de buscar o aperfeiçoamento da integração acadêmica, que é a missão da estrutura intermediária. 

 

SeCom/CFCH: A senhora acredita que o Espaço JJ seria uma síntese da ideia de integração acadêmica?

Decana: Eu diria que ele é um efeito dessa ideia. Como é um efeito também a participação do CFCH no projeto ProInfra. Precisamos falar desse projeto em dois níveis: o ProInfra 2008 (edital organizado pela Financiadora de Estudos e Projetos – Finep), que já tem dez anos e ainda não foi consolidado. Nós já estamos com todos os equipamentos adquiridos, mas ainda não instalamos os laboratórios de áudio, fotografia etc. Nós vamos fazer isso. Estamos preparando a instalação elétrica para que esses laboratórios sejam acessíveis a discentes, docentes e servidores técnico-administrativos. E isso nos coloca um desafio de gestão desse espaço. Talvez seja o grande desafio para o próximo quadriênio: levar a termo o acesso aos equipamentos, adquiridos com recursos públicos, para o desenvolvimento das nossas pesquisas. A proposta ao edital reuniu todos programas de pós-graduação do campus da Praia Vermelha, mas é importante também que os graduandos tenham acesso a eles. Nós estamos levando adiante este projeto, apesar da grande demanda por espaços no campus da Praia Vermelha. O segundo nível é o edital ProInfra 2015, em que o Conselho Universitário (Consuni) deu parecer favorável, mas a Finep não, por não considerar que o nosso projeto se tratasse de inovação. Portanto, não fomos contemplados, não obstante todo o esforço realizado para adequar a nossa proposta institucional aos termos rigorosos do edital. A questão que fica é que a área das Ciências Humanas e Sociais não faz inovação. Neste sentido, a participação do CFCH no Parque Tecnológico, politizando as suas decisões, visa rediscutir este conceito de “inovação” que nos contemple. Nós somos também área de Ciência, nós fazemos Ciência e não abrimos mão disso. 

 

SeCom/CFCH: Outra inovação da sua gestão trouxe foi a criação da Superintendência Acadêmica da Decania. Qual a importância desta iniciativa?

Decana: Nos dois quadriênios do (professor) Marcelo (Corrêa e Castro, decano nas gestões 2006-2010/2010-2014), eu era vice-decana e exercia a função de coordenadora de Integração de Pós-Graduação e fazia um pouco a função de superintendente acadêmica, provocando a concertação das agendas. E vem daí a ideia de criar a Superintendência Acadêmica. A minha aposta com essa criação foi produzir a concertação das coordenações de integração de graduação, pós-graduação e de extensão, de modo que a integração das diferentes pastas fosse potencializada. E isso foi feito. Desde a primeira hora eu convidei a (professora) Ludmila (Fontenele Cavalcanti), que é a pessoa que coordena todas as ações a partir de um eixo e provoca a interação entre as pastas, que têm uma agenda muito específica. Nós somos um centro universitário que criou a Semana de Integração Acadêmica (Siac), na gestão da professora Suely Souza de Almeida (2002-2006). Nós criamos o evento, nas sessões que produzimos naquela ocasião, integrando trabalhos de iniciação científica, extensão e de pós-graduação. A nossa preocupação não era eleger um vencedor, mas sim potencializar o debate acerca dos eixos temáticos da sessão, a partir dos diferentes enfoques e pontos de observação. Então, nós fizemos o que ninguém havia feito. As tentativas que sucederam aquela foram uma sobreposição de calendários do Congresso de Extensão, Jornada de Iniciação Científica e Semana Nacional de Ciência e Tecnologia... enfim, todos esses eventos foram reunidos no mesmo calendário, mas a integração acadêmica entre eles é muito difícil. Ela só consegue ser realizada com uma coordenação no nível da estrutura média. Então, a criação da Superintendência Acadêmica do CFCH colocou em evidência a necessidade de nós aperfeiçoarmos a integração acadêmica e a parte acadêmica. É isso que dá sustentação aos projetos. A Superintendência Administrativa, sob a condução da Larissa Gaspar, aperfeiçoou o dialogo com a administração superior nas áreas de pessoal, governança, finanças e infraestrutura, potencializando a agenda das unidades e da área. No CCS (Centro de Ciências da Saúde), há essa figura (superintendente acadêmica), mas ela atua muito mais na gestão administrativa do que acadêmica. É importante também sublinhar que a professora Ludmila Fontenele está aposentada há alguns meses, mas sempre exerceu essa função com muita firmeza e liderança, vestindo a camisa da proposta. Ela está na função desde o início, enquanto todas as coordenações já sofreram mudanças. É um trabalho pesado e que exige um ritmo acelerado. 

 

SeCom/CFCH: A sua gestão incentivou uma grande participação dos coordenadores de Integração Acadêmica de Graduação, Pós-Graduação e de Extensão nas decisões da Decania. Como a senhora avalia a atuação dos coordenadores?

Decana: A participação de todos os coordenadores que aqui passaram foi fundamental para o sucesso da gestão acadêmica da Decania. Desde a primeira formação, com os professores Mohammed ElHaggi (da ECO, ex-coordenador de Integração Acadêmica de Pós-Graduação), Sabrina Moehlecke (da FE, ex-coordenadora de Integração Acadêmica de Extensão) e João Batista Ferreira (do IP, ex-coordenador de Integração Acadêmica de Graduação), até a atual formação, com Mônica (Lima, do IH, vice-decana e atual coordenadora de Integração Acadêmica de Graduação), Francisco Teixeira Portugal (do IP, atual coordenador de Integração Acadêmica de Pós-Graduação) e Marcelo Macedo Corrêa e Castro (da FE, atual coordenador de Integração Acadêmica de Extensão). A atuação deles é fundamental porque é através deles que nós conseguimos dinamizar a relação com as coordenações de cursos e de extensão com os coordenadores das unidades para discutir temas como orientação e acompanhamento acadêmico no nível da graduação e da pós-graduação; trazer o tema da assistência estudantil como política de direito na graduação e na pós-graduação; trazer o tema das cotas, estimulando os programas de pós-graduação a visitarem o seu regulamento, promovendo o intercâmbio das experiências vividas, o que pode permitir a instalação desse debate nos diferentes programas; a creditação das atividades de extensão em cada uma das unidades; e a própria institucionalização da atividade de Extensão no seio da universidade. 

Esses são temas que estão sempre no radar das três pastas. Por isso que uma reunião da Coordenação de Graduação não se limita a essa pasta. Ela é uma reunião com coordenadores de graduação, mas que nós tratamos, numa perspectiva de totalidade, desses assuntos, que não são restritos a um determinado campo. Por isso, a participação deles tem sido fundamental, mas para isso nós precisamos de uma equipe de apoio, que acompanhe as mudanças que ocorrem no âmbito das unidades, que permita uma entrada mais ágil nas unidades para conversar sobre determinado tema. Esse trabalho tem sido muito gratificante. Por exemplo, o tema da revalidação dos diplomas, que aqui no CFCH tem uma especificidade em relação aos demais centros: nós recebemos uma média de 400 pedidos de revalidação por semestre. Desses, 90% são dirigidos ao Programa de Pós-Graduação em Educação. Ora, um programa nota 6 na Capes, que tem todo o envolvimento numa trajetória em qualificar a sua pesquisa acadêmica, parece que tem que parar para dar conta de 360 reconhecimento de títulos semestralmente. Isso é inaceitável, porque atrapalha o desenvolvimento das atividades-fim do programa de pós-graduação. Nós estamos em um debate bastante firme para combater essa indústria de revalidação de diplomas. No período de revalidação dos diplomas, os escritórios de advocacia chegam aqui com carrinhos e malas com essa documentação. E por que eles escolhem a UFRJ? A resposta mais simples é que aqui as taxas de revalidação são irrisórias. Só que muitas vezes são cursos que não são congêneres com os cursos promovidos aqui. Embora na documentação não conste que são cursos de natureza semi-presencial, eles exigem a presença apenas na defesa da dissertação ou da tese. E isso vai de encontro com a natureza dos cursos oferecidos aqui. Esse é um tema espinhoso, mas que estamos tratando do ponto de vista da integração acadêmica com um protagonismo importante da coordenação. 

 

SeCom/CFCH: Qual a sua avaliação do desempenho dos estudantes do CFCH na Semana de Integração Acadêmica (Siac)?

Decana: O CFCH sempre apresentou muitos trabalhos na Siac. Ele não é o Centro mais bem aquinhoado na distribuição de bolsas, mas é o segundo centro que mais apresenta trabalhos, depois do CCS. Isso é uma tendência há cerca de 15 anos. Mas se formos fazer uma desagregação por bolsa Pibic (Programa Institucional de Iniciação Científica), nós estamos lá embaixo. Isso quer dizer que mesmo com o baixo número de bolsas que recebemos, apresentamos muitos mais trabalhos do que outros centros que são mais contemplados. Nós estamos dando continuidade ao que foi firmado na gestão do professor Marcelo Macedo Corrêa e Castro (decano nas gestões 2006/2010 e 2010-2014). Foi instituído que os trabalhos seriam apresentados em uma única sessão e todos os indicados poderiam apresentar o resumo expandido para o conselho editorial da Revista do CFCH. Isso é importante porque, em grande parte das vezes, esta é a primeira publicação do candidato. E nós estamos fazendo isso para todos os indicados de todas as sessões. Para isso, o trabalho da equipe da Biblioteca do CFCH e sua expertise tem sido fundamental, bem como do comitê editorial que faz a revisão e dá os pareceres daquela publicação, o que tem sido muito gratificante e importante.  

 

SeCom/CFCH: Nas últimas semanas, os servidores dos setores da Decania apresentaram os resultados do trabalho durante os últimos quatro anos. Como a senhora avalia essa experiência?

Decana: No momento de fazer um inventário deste quadriênio, eu quis que os servidores – para além de pensarem individualmente sobre o seu setor – pensassem coletivamente sobre o funcionamento da Decania. Seria uma forma intensiva de provocar esse espírito de corpo. Eu sabia que essa experiência seria rica, mas fiquei positivamente surpresa com o assenhoramento dos servidores sobre as suas atividades. E isso está sendo muito rico para todos: para os servidores, que conhecem a partir do que vocalizam sobre o seu trabalho, e deixa de lado aquela postura individualista e autonomizadora dos setores. Isso é relevante porque demonstra que a Decania funciona porque tem um conjunto de servidores que a levam para frente. E esses servidores é que são a força-trabalho permanente. A direção da Decania é passageira. A minha expectativa nesse conjunto de encontros é firmar esse compromisso dos servidores com a Decania daqui para diante. O objetivo é garantir que esse legado continue a ser construído por este conjunto de servidores. 

Eu respeito muito os servidores do CFCH. Por exemplo, quando a Decania foi ao Alojamento Universitário cadastrar os moradores após o incêndio em 2015, eu escolhi a dedo aqueles que eu acreditei que pudessem ajudar naquela tarefa. Aquele foi um momento importante. Nós precisamos, através da estrutura média, dinamizar essa relação entre a Reitoria e as unidades acadêmicas. E no campo da assistência estudantil nós temos uma grande responsabilidade, não porque a Escola de Serviço Social seja uma das elaboradoras dessa política na universidade. É mais do que isso. É porque nós somos o centro universitário que pode oferecer lentes de compreensão sobre esse tema que são completamente diferentes das lentes que são usualmente aplicadas para entender o tema da assistência estudantil. Esse é só um exemplo. Então, é muito importante esse momento de revisitar, de construir os nexos entre o que nós fizemos e os grandes projetos de desenvolvimento da universidade. Outro exemplo: eu pedi para alguns servidores contribuírem com propostas que a Decania levará para discussão sobre o novo Plano de Desenvolvimento Institucional (PDI) da universidade. 

 

Foto: Cícero Rabello/CPM-ECO

 

Leia também:

Parte II: Desafios que ficam para a gestão 2018-2022.

Parte III: Perspetivas para as Ciências Humanas e Sociais.

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