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Entrevista com a decana - Parte III: Perspectivas para as Ciências Humanas e Sociais

Sobre as perspectivas para a próxima gestão, a decana espera a participação de toda a comunidade na escolha do novo decano para que, desta maneira, seja debatida e construída coletivamente a agenda para a área das Ciências Humanas e Sociais do próximo quadriênio. "Neste momento em que a Política sofre ataques insidiosos de toda ordem, é fundamental pensarmos a política de modo positivo. A escolha de um candidato ou candidata ao cargo máximo da estrutura média da universidade é um importante ponto de partida para um enraizamento em atividade política na universidade, para além do interesse das categorias docente, técnico-administrativos e discentes", afirma.

 

 

 

 

 

SeCom/CFCH: Existe um perfil adequado para um candidato(a) a decano(a)? Qual seria ele?

Decana: Não. Surpreendentemente para uma assistente social, eu não gosto de eleger “perfis”. Eu acho que o sujeito é atravessado por infindáveis variáveis que não cabem em um perfil específico. Ele é atravessado por relações sociais que são relações de poder. Então, não existe um conjunto de atributos. Neste sentido, um servidor público, ou uma servidora pública que tenha projetos acadêmicos que ampliem a relação dialógica, práticas democráticas, que tente substantivar mais a democracia no seu cotidiano – e isso não se faz sozinho, mas sim com um conjunto de pessoas – possui um conjunto de características que precisam estar presentes para serem acionadas. Precisa entender que isso aqui é uma correlação de forças e saudar a atividade política! A estrutura média deve servir para restaurar a capacidade política da área.

Existe uma lenda de que para ser decano ou decana tem que ter origem na Educação ou no Serviço Social, porque nós tivemos, nos últimos quatro quadriênios, a Suely (Souza de Almeida), o Marcelo (Macedo Corrêa e Castro) e eu. Mas isso não é verdade, porque nenhum de nós “decanou”/experimentou a gestão na Decania solitariamente com as nossas unidades. Ao contrário.

 

SeCom/CFCH: O futuro decano ou futura decana precisa ter alguma experiência de gestão em alguma unidade? 

Decana: Não. Isso não é uma condição. A condição estabelecida nas normas eleitorais é que seja um(a) professor(a) associado 2, 3 ou 4 ou titular. E isso deve ter um sentido. Na minha opinião, o sentido disso é a sua trajetória e experiência pessoal na universidade. Isso não significa ter ocupado cargos de direção. 

 

SeCom/CFCH: Quais pontos a senhora destacaria como fundamentais na construção de uma agenda para a gestão 2018-2022?

Decana: Eu diria que o(a) novo(a) dirigente tem que entender que o centro universitário não começa na hora em que ele(a) chega. Ele(a) tem uma história e um processo. E, para isso, é importante a transição. É importante que ele(a) entenda que o gestor, ou a gestora faz parte desse processo. 

Eu vejo que as perspectivas futuras dos trabalhos que foram construídos ao longo desses últimos três quadriênios são um bom ponto de partida para a realização de uma nova gestão. Nós temos iniciativas potentes de integração acadêmica; na área de Pessoal, nós temos um fortalecimento dos nossos setores, de um plano de valorização das atividades a partir de funções gratificadas e da relação dialógica; temos a perspectiva de dar continuidade à estruturação de setores emergentes. Nós temos grandes perspectivas de trabalho, não somente o Espaço JJ, como – o que eu considero o grande desafio da futura gestão – a utilização ampla dos laboratórios de pesquisa e produção multimídia, que não serão de exclusividade de uma única unidade acadêmica, mas de todas as unidades e de todos os programas de pós-graduação sediados na Praia Vermelha. Então, estruturar este setor e o funcionamento deste setor, em um prédio em que não costuma haver salas de aula e movimentação de docentes, será um grande desafio para a gestão vindoura. 

 

SeCom/CFCH: Por quê?

Decana: Porque não há uma coordenação, uma seção de ensino disponível para este tipo de público, diferentemente das unidades acadêmicas, que são pensadas para aquele número de estudantes e do atendimento a eles. Nós não temos servidores para acompanhar o uso dos laboratórios de informática, por exemplo. Mas isso é algo que precisa ser constituído e negociado no âmbito das unidades acadêmicas e da Reitoria. 

 

SeCom/CFCH: Na última sessão do Conselho de Coordenação, discutiu-se a possibilidade de um professor da carreira EBTT (Ensino Básico Técnico e Tecnológico, a carreira em que estão inscritos os professores da Educação Básica, lotados no Colégio de Aplicação e na Escola de Educação Infantil) se candidatar ao cargo de decano(a). O mesmo poderia se aplicar a servidor técnico-administrativo? Qual a sua opinião a respeito?

Decana: Do meu ponto de vista poderia, desde que houvesse uma alteração do estatuto. Mas a minha avaliação é que isso não passaria no Conselho Universitário. 

 

SeCom/CFCH: Isso pode ser levado à discussão no futuro Congresso Universitário?

Decana: Pode. E aí nós já poderemos ter uma ideia do que pensa a universidade sobre este debate. Mas nós não podemos esquecer que no ano que vem nós teremos eleição para a Reitoria e o que estará em disputa são projetos de universidade. Precisamos revitalizar a dimensão política, dialógica, de disputa. Me preocupa essa narrativa e práticas apolítica e anti-política de renovação de assembleias, voto pela internet. A atividade política exige coragem de enfrentar o debate, sustentar opinião e construir, ou não, consensos. Me assusta a “modernização da política”, de uma forma menos burocrática e mais ágil de tomadas de decisão. As assembleias docentes de hoje ocorrem simultaneamente em diferentes campi. Eu não entendo qual o lugar da Política nessas assembleias. E essa estética extrapola para o Executivo, leia-se, eleição para as unidades, decanias e a Reitoria. 

 

SeCom/CFCH: O que a senhora diria aos professores, técnicos e estudantes sobre a importância de participar da escolha do(a) próximo(a) decano(a) do CFCH?

Decana: Neste momento em que a Política sofre ataques insidiosos de toda ordem, em que a diversidade, cada vez mais, é restrita a um entendimento burro, esquizoide, ignóbil por parte de grupos religiosos, de grupos comprometidos com interesses particulares, é fundamental, é essencial pensarmos a política de modo positivo. A escolha de um candidato ou candidata ao cargo máximo da estrutura média da universidade é um importante ponto de partida para um enraizamento em atividade política na universidade, para além do interesse das categorias docente, técnico-administrativos e discentes. É importante que nós construamos, tensionemos, politizemos uma agenda da área das ciências Humanas e Sociais na universidade para dar continuidade a este lugar de fala. Então é importante que todos nós consigamos participar.

 

Foto: Cícero Rabello/CPM-ECO

 

Leia também:

Parte I: Legados da gestão 2014-2018.

Parte II: Os desafios que ficam para a próxima gestão.

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