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CFCH - Centro de Filosofia e Ciências Humanas

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RELATÓRIO DE GESTÃO
2006-2010/2010-2014

 

 

Discurso de Posse
2006

 

 

Cerimônia de posse do Decano do CFCH

Salão Pedro Calmon
7 de agosto de 2006

 

Discurso de Posse

Magnífico Reitor; ilustres Pró-Reitores; Querida Decana; digníssimos Diretores das unidades e do órgão suplementar do CFCH; demais autoridades presentes; companheiros da UFRJ; amigos; familiares, boa noite.

A universidade pública brasileira tem lutado historicamente para cumprir sua missão no processo de construção de um país justo dentro de um contexto marcado pela desigualdade social e pelo insuficiente exercício da cidadania.

Como instituição que produz e difunde saber, a universidade pública contribui com conhecimentos teóricos e práticos, soluções para problemas, formação de pesquisadores e de profissionais, no sentido de ajudar o Brasil a construir-se como um país capaz de enfrentar e de vencer os desafios postos no caminho do seu desenvolvimento. Esta contribuição, sem a qual não se poderia cogitar de avanços expressivos na qualidade de vida do Brasil, não tem merecido, por parte da política de Estado para as universidades públicas, a devida atenção, o que nos obriga a uma luta constante não só para contornar a escassez de recursos, como também para manter em pauta nossas justas reivindicações.

A universidade, no entanto, tem seus próprios desafios, que se impõem como barreiras ao pleno cumprimento de sua missão social. Dessas barreiras, duas vão merecer neste momento o meu destaque.

A primeira é a da capacidade de atuar em prol do crescimento social e da distribuição de saber de forma ampla, sem restringir os avanços científicos aos nichos de excelência e aos poucos iniciados no duro jogo do sucesso acadêmico, marcado por regras perversas, que estimulam a concentração de poder e promovem a exclusão.

Hoje, mais do que em qualquer outro momento, a universidade é pressionada para se tornar mais acessível, menos auto-referenciada e, sobretudo, mais aberta ao diálogo com todos os segmentos da sociedade. E não pode mais adiar as transformações que devem ocorrer para que este diálogo se instaure.

A segunda barreira que destaco é a da fragmentação interna da universidade, que impele a instituição a atuar como um conglomerado de escolas/institutos/faculdades isoladas, que se pensam como princípio, meio e fim de todas as ações em que estão envolvidas. A superação desta barreira significará uma nova lógica de atuação, cuja base seja encontrada na articulação e na confluência de saberes, e uma nova organização, em que o todo prevaleça sobre a parte e as ações se integrem sob os pontos de vista acadêmico, político e administrativo.

Diante destes dois desafios, o Centro de Filosofia e Ciências Humanas constitui espaço estratégico para a universidade, na medida em que reúne parte expressiva do pensamento crítico e da produção de saber e de ações concretas nas ciências humanas e sociais.

Considerando apenas as grandes áreas, sem detalhar suas ramificações e sudivisões, trata-se de um centro universitário que produz conhecimentos e ações em antropologia, ciência política, ciências sociais, comunicação social, educação, filosofia, história, psicologia, serviço social, com destaque para a formação de profissionais com grande capacidade de intervir de forma decisiva nos processos sociais.

O CFCH, todavia, só começou efetivamente a se configurar como este espaço durante a gestão 2002-2006, pela brilhante condução da Professora Suely Souza de Almeida e de sua não menos brilhante equipe. Foram quatro anos de incessante trabalho a fim de construir um centro que hoje pode, com absoluta confiança, se considerar totalmente investido do papel para ele definido estatutariamente: 1.facilitar a coordenação e integração do ensino, da pesquisa e da extensão, em cada área de conhecimento; 2.articular as unidades e órgãos suplementares com a Estrutura Superior da UFRJ.

Esta política, em suas grandes linhas, tem de continuar sendo priorizada, a fim de proporcionar a consolidação do movimento que tem proporcionado ao CFCH mudar radicalmente sua condição no cenário da comunidade acadêmica. E esta mudança deve prosseguir, para que o nosso Centro conquiste ainda mais espaço na definição das políticas maiores da Universidade.

Será necessário, porém, investir no avanço e no aperfeiçoamento desta direção político-acadêmica, no sentido de que o CFCH não só alcance resultados ainda mais expressivos em relação às ações e projetos que já atingiram consistência, mas também contribua para o desenvolvimento de novas ações.

E se afirmo, tão enfaticamente, a necessidade de consolidação, é porque aprendi que se engana quem supõe serem irreversíveis conquistas de tal ordem. Quer queiramos ou não, ainda há, na cultura institucional da UFRJ, potencial suficiente para a instalação de crises como as que vêm atingindo algumas de nossas unidades.

Ao contrário de que seria mais conveniente para a nossa tranqüilidade e justo em relação à nossa luta diária por uma universidade melhor, as crises que enfrentamos não resultam apenas da ação isolada de tiranetes de plantão e arrivistas de segunda categoria, embora eles aí estejam, nas sombras da história, espreitando os vazios de poder. Eles, entretanto, somente representam a feição grotesca e mesquinha de nós mesmos, nossas escolhas equivocadas e o que há de mais negativo em nossa instituição.

Mais do que obras de mediocridades e maquiavelismos baratos, as crises são resultados negativos de nossa luta para superar a cultura da demagogia, do populismo, do tráfico de influência, das intrigas palacianas, dos falsos consensos, da venda de serviços, da utilização da grife e da chancela da UFRJ como âncoras institucionais obrigatórias para a realização de projetos particulares de indivíduos e grupos específicos, que nada pretendem para o bem estar social ou o proveito da coletividade.

Eis porque, mesmo certos da solidez dos princípios e dos avanços havidos, precisamos continuar dedicados, com toda a nossa capacidade intelectual e política, à consolidação de um centro verdadeiramente alinhado com um projeto de universidade pública, transparente em suas ações, institucionalizada em suas normas e procedimentos, voltada inteiramente para o interesse deste país pobre e faminto que paga nossos salários.

Os quatro anos que se encerram agora representaram para o CFCH a abertura de uma estrada que pretendo continuar percorrendo, custe o que custar: a estrada que leva a uma universidade em que se ensina e se aprende que o homem, em sua plenitude, é origem e destino de toda a cultura e de todo o saber. Que, em meio a pragmatismos simplificadores, apesar do alarmismo. pós-modernista, muito embora discursos que decretam o fim da história, sobrevive, inabalável, nossa tarefa mais nobre e essencial: a humanização do próprio homem, o processo pelo qual escolhemos, dentre tudo o que podemos ser, aquilo que nos torna melhores. Que, para além da razão instrumental, se construa um mundo de diálogo, em que, pela superação de limites e territórios, se faça o regime da tolerância e da inclusão. Que, contra todas as cruéis evidências do cotidiano, se ergam, majestosas e simples, a consciência e a poesia, porque os homens, educados para escolher a vida, e não a sua destruição, assim escolheram que deveria ser.

E isto, com apoio de todas as ciências, é tarefa em que as ciências sociais e humanas têm o protagonismo. Se o mundo acadêmico ainda reluta em perceber isto e prefere tecer loas ao que de imediato se constata como avanço, ao mais palpável, ao que se faz presente aos olhos de todos, não há problema. Ainda temos tempo e sabemos viver a espera, enquanto engendramos esse novo homem e esse novo mundo em que as ciências sociais e humanas não serão arremedo de objetividade nem desnecessária teorização; este mundo em que o homem e sua capacidade de vencer os limites da subjetividade façam a diferença a favor do próprio homem.

Sabemos todos que o caminho é longo, a tarefa é dura e a força, às vezes, parece faltar. Com a etapa do processo que acabamos de vencer, reaprendemos, porém, que nada, nem nós mesmos, poderá nos impedir de escrever nossa história e de conquistar aquilo com que insistimos em sonhar.

Gostaria de oferecer esta fala e o próprio mandato de decano:

À Faculdade de Letras, onde iniciei meu percurso na UFRJ, como aluno, e minha formação como professor de Língua Portuguesa e Literatura Brasileira;

Ao Colégio de Aplicação e à Faculdade de Educação, onde percorri minha trajetória acadêmica, toda ela dedicada a formar pessoas que educam;

À Escola de Comunicação, à Escola de Serviços Social, ao Instituto de Filosofia e Ciências Sociais e ao Instituto de Psicologia, unidades que conheci depois e cujo sentido pretendo honrar como decano;

Ao Conselho de Ensino de Graduação e Corpo Discente – CEG, que nem nos piores momentos da história da UFRJ perdeu o rumo ou desistiu da luta; espaço institucional que prova, a cada sessão, que as divergências podem ser tratadas com civilidade e que o coração aberto gera decisões mais sólidas. Se mais não tivesse feito em minha carreira acadêmica, bastaria, para o meu orgulho próprio, ter sido conselheiro do CEG;

À Professora Suely Souza de Almeida, rara combinação de ética e elegância, tanto no plano político quanto no acadêmico; lição de vida para todos nós, a ensinar, com ternura e firmeza, a querer honrar sempre mais a condição humana e a construir nossa vida como uma grande celebração do entendimento entre os homens.

A toda a equipe do CFCH, que tem me apoiado em minha transição, um tanto inesperada, de diretor de unidade para decano;

Aos meus queridos amigos Renato José de Oliveira, Ana Maria Ferreira da Costa Monteiro, Ana Maria Vilela Cavaliere, Márcia Serra Ferreira e Regina Cunha, que não só ajudaram a reerguer a Faculdade de Educação, como, tenho certeza, farão dela a unidade que está destinada a ser, pela grandeza de sua missão institucional;

Aos meus pais, Maura e Oswaldo; e aos meus filhos, Isabel e Pedro, porque deles se origina e por causa deles se mantém viva a vontade de estar no mundo e de fazer dele um lugar mais humano.

A vida se faz de perdas e ganhos que nem sempre sabemos interpretar de imediato. Às vésperas de completar 50 anos de idade, me ocorre que, destes anos todos, 31, mais da metade, foram vividos na UFRJ, onde ingressei como estudante, em 1975, e de onde me tornei professor em 1980, Que perdas teria tido por ficar tanto tempo em uma única instituição? Não sei. Leio este fato como uma oportunidade que me dei na vida: a oportunidade de trabalhar por um país mais justo, por uma sociedade mais humana, por um tempo de diálogo e coragem.

Espero, sereno e humilde, mas também com boa ansiedade e muito orgulho, estar à altura do presente que a vida me deu e ser capaz de retribuir, como os poetas e os sábios, com gestos de respeito, de confiança e de amor.

 

 

 

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