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CFCH - Centro de Filosofia e Ciências Humanas

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RELATÓRIO DE GESTÃO
2006-2010/2010-2014

 

 

Discursos de Posse
2010

 

 

Cerimônia de posse do Decano do CFCH

Auditório Manoel Maurício de Albuquerque
20 de agosto de 2010

 

Discurso de Posse

Magnífico Reitor; ilustres Pró-Reitores; Querida Vice-Decana; digníssimos Diretores das unidades e dos órgãos suplementares do CFCH; demais autoridades presentes; companheiros da UFRJ; amigos; familiares, boa noite.

Em minha trajetória acadêmica tenho defendido, como dever de humildade, o uso da primeira pessoa do singular nas falas dos indivíduos. Hoje, no entanto, gostaria de falar no plural, porque só um esforço coletivo justifica este segundo e consecutivo mandato à frente da Decania do CFCH. Entenda-se, pois, que se trata de um nós composto por muitos indivíduos, e não do Marcelo escondido atrás de um truque retórico.

Assumimos o CFCH com o propósito declarado de continuar o trabalho desenvolvido, de 2002 a 2006, pela equipe liderada pela Professora Suely Souza de Almeida. Em nossa avaliação, o mencionado período representou não só o início de um projeto de consolidação do nosso Centro como um conjunto articulado em torno das questões pertinentes às Ciências Humanas e Sociais, como também a projeção do CFCH no cenário da UFRJ a partir de uma nova lógica de participação. Os muitos ganhos decorrentes daqueles esforços nos convenceram de que havia um caminho a continuar.

Orientados por um programa de ações, e não só de princípios, investimos quatro anos de trabalho nesta caminhada. O balanço da gestão mostra que as ações se realizaram, algumas plenamente, outras nem tanto, afetadas que foram por fatores diversos. Houve muito diálogo, muita avaliação, replanejamentos diversos, mas, em momento algum, houve desistência ou o abandono do nosso projeto. Houve também respeito aos princípios escolhidos para sustentar as decisões assumidas. Estão aí: a institucionalização do NEPP-Dh; o programa de cursos para os servidores técnico-administrativos; os investimentos nas bibliotecas; os dois inéditos projetos conquistados no âmbito do Pro-Infra; o Curso de Especialização saberes e Práticas da Educação Básica; o curso de Relações Internacionais; as expansões com e sem REUNI; a página eletrônica; a revista do CFCH. E esta aí, sobretudo, um ambiente mantido com diálogo, confiança e respeito.

Como todo percurso, porém, este se viu disputado pelo próprio transcorrer das ações na UFRJ nos últimos quatro anos. E houve muitas ações e movimentos com que tivemos de dialogar: PDI, REUNI, Plano Diretor, Ações afirmativas. Segundo nossa avaliação, o CFCH manteve em todos os momentos uma postura crítica e, ao mesmo tempo, propositiva. Isto não evitou, todavia, que o Centro se deslocasse para uma condição que não procuramos nem propusemos; uma condição de algum isolamento em relação às propostas recepcionadas pelo colegiado superior e às decisões que delas se originaram.

Precisamos admitir que houve muitos instantes do nosso percurso em que o sentimento de abandono em relação aos planos da UFRJ trouxe desânimo e tristeza a todos nós. Justamente quando este quadro, acrescido da constatação de que havíamos cumprido metas objetivas, parecia nos apontar para uma conclusão de mandato e a nossa consequente retirada do cenário da Decania, começamos a construir um novo projeto, por meio do qual reafirmamos princípios e planos, realinhamos forças e renovamos nossa disposição de tornar o CFCH um espaço ainda mais consolidado em sua missão institucional. O melhor de tudo, o mais decisivo para apostarmos em uma continuidade e em mais quatro anos vem da certeza de que essa escolha não se configura como resposta a adversários nem como desafio para contendas. Não há duelos nem luvas, nem mesmo as de pelica. Ao contrário, o projeto de prosseguir deriva da nossa convicção de que podemos nos tornar melhores, por meio da superação de nós mesmos, e não da neutralização dos outros e de suas eventuais investidas contra nossos planos.

Eis a justificativa da nossa recondução. Esta cerimônia, todavia, celebra algo mais do que a posse de uma equipe. E isto não podemos omitir.

Estamos aqui hoje, em celebração, para renovar propósitos e afirmar publicamente que, nestes quatro anos já começados, a história nos ultrapassará, mas também para assegurar que isto não nos rouba a condição de sujeitos da nossa história. Certamente não únicos nem infalíveis, mas sujeitos. Reconhecer nossa condição não tira de nós o alento nem a força, apenas nos dimensiona na condição humana.

Estamos aqui hoje para reconhecer que o percurso sofrerá inúmeros ajustes, muitos, talvez a maior parte deles, indesejados e inconvenientes; as alianças sofrerão desgastes, alguns incompreensíveis, outros dolorosos; os planos sofrerão com os desvios decorrentes da necessária negociação entre idéias e fatos, desejos e realidades. Uma vez mais, tentaremos transformar isto tudo em um mapa de nossa humanização, um corpo, não de cicatrizes e mágoas mal resolvidas, mas de marcas da história humana, que consiste em reinventar todo dia o projeto da sua civilização.

Estamos aqui hoje porque nos une uma estranha pretensão de viver em harmonia em meio aos desencontros, aproximados por um complexo conjunto de circunstâncias, para avisar que há uma distância diante de nós e de nossas esperanças. E, principalmente, para comunicar a todos que vamos percorrê-la com toda a nossa força, apesar de nossos medos, em nome de nossos sonhos, para além do que nos desafia. Vamos percorrê-la com a sabedoria que nos aproxima, com a humildade que engendra nossa superação, com a medida de nossas dores e alegrias.

Vamos percorrê-la porque, ultrapassados por ela, ficamos também sendo a história, nesta comunhão de poderes que se produz a cada vez que o sonho humano se reinaugura, contra toda a hostilidade de uma realidade áspera e intransigente.

Vamos percorrer esta distância intangível porque, cientes de nosso tamanho e de nossa potência como unidade isolada do mundo, tornamo-nos igualmente conhecedores da amplitude de possibilidades de reunirmo-nos: muitos em um, todos por todos.

Vamos percorrê-la porque, diante das adversidades e, sobretudo, da nossa dificuldade cotidiana de escolher a delicadeza, sobrevém um reencantamento insuspeitado, uma vontade de atravessar tempos e espaços em busca do que ainda não conseguimos transformar em poesia.

Estamos aqui – cientistas, professores, servidores, estudantes, mulheres e homens – repletos de nossa incompletude, para celebrar que há vida em nossos passos e nas distâncias a percorrer.

Talvez devêssemos propor teses e racionalizações que nos explicassem academicamente, recolocando a todos no conforto da zona de discurso que já domesticamos. Preferimos, no entanto, saber que não sabemos mesmo inteiramente por que razões estamos aqui, apostando na vida. Por isso, preferimos saber que a história, tão grande e tão sólida, precisa da nossa insensatez e dos nossos imprevisíveis saberes para existir. Convém aos nossos corações acreditar que algo maior nos convida a viver e a lutar. Importa para os nossos movimentos estar à espera de futuros de superação. Faz toda a diferença para os nossos impulsos de agir ter a certeza quixotesca de estarmos em vias de vencer todos os inimigos, especialmente os que habitam nos nossos mais puros ideais.

Estamos aqui, em celebração, prontos para oferecer ao mundo um convite para que se permita viver em nosso paraíso. Certos do risco que representa este convite, seguiremos em nosso propósito de enfrentar as escolhas e de não ceder definitivamente às armadilhas que nos aguardam na trama dos sentidos e dos poderes.

Estamos aqui para celebrar coletivamente uma escolha: a de persistir em nossa disposição de fazer caminhos no caminhar e de gerar vida da própria vida, sem uma única concessão às artimanhas com que por vezes nos iludimos e supomos ter qualquer outra saída.

Estamos aqui para ocupar um lugar na história, para estar no encalço de tão vagas e, ao mesmo tempo, tão fortes esperanças.

Estamos aqui, apesar de tudo, porque somos humanos em nossa capacidade magnífica de acreditar. E porque, neste instante, não importa quantos se oponham a nossos valores e projetos, livres da ânsia de dominar e da ilusão de estar à frente de tudo, conseguimos, afinal, estar juntos e povoar o mundo com nossas histórias e celebrações.

Talvez nossa voz seja abafada, talvez sejamos devastados pela história, certa de sua soberania, plena de sua eternidade, mas talvez também nos ensine, sem farsa ou tragédia, a cada vez que o sonho humano se revigore, que ainda estamos muito aquém do que há de melhor em nós. Com sua linguagem de clara esfinge, a história nos perguntará a que viemos, se não para segui-la em seu curso inesperado.

E a resposta que podemos dar, com nossa voz mais humana, irremediavelmente impregnada de nossas mais sinceras pretensões, está posta em nossa presença aqui hoje: - Estamos aqui, diante de todas estas distâncias, e vamos percorrê-las.

 

 

 

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